O fim de tarde esteve lindo, apesar do frio. Avermelhado e laranja a prometer sol para o dia seguinte. Vai ser quinta-feira, mais um dia na semana e o corpo a pedir sábado. Para libertar o tempo de tanta tarefa, deixá-lo de molho na calda do sossego, um bem a não perder. Nós que andamos cheios de nada e ausentes de quase tudo. Sem espaço para a liberdade e a criação.
Andei esmorecida, hoje. Sem alma, sem magia, apenas a fazer. A solidão prendeu-me o riso e a saudade inundou o dia. Uma certa melancolia, que veio de longe e se instalou. O frio não ajudou, digo eu, para nada dizer.
Na escola, o dia correu bem. Vi mais risos, menos zangas e mais partilha. Houve propostas e festa de anos. Falámos de meninos e meninas felizes e conversámos sobre a importância de ajudarmos quem mais precisa. Quem chora. E houve a hora do mimo, que agora criámos e que todos gostam. Mimam-se uns aos outros, depois do almoço, quase em silêncio. É um momento em que estamos a aprender a tocar nos amigos com afeto. Para que as mãos possam inverter a fúria e a impulsividade. Foi bom.
Mas a melancolia não passou, nem a saudade. Qualquer coisa indefinida e meia triste. Qualquer pena, qualquer dor. Julgo que não afetou muito os meninos e se assim fosse, também não fazia muito mal. Os educadores são pessoas e as crianças precisam de as ter em todas as dimensões. Com bom senso, claro e em doses justas, diria eu. Para dizer que os adultos, por serem verdadeiros, não devem ser imprudentes ou imaturos. Sei que não fui.
Agora fui reler Sophia de Melllo Breyner
As minhas mãos...
As minhas mãos mantém as estrelas
Seguro a minha alma para que não se quebre
A melodia que vai de flor em flor
Arranco o mar do mar e ponho-o em mim
E o bater do meu coração sustenta o ritmo das coisas
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