Deixei-me arrastar pelo trabalho e perdi o tempo e o silêncio, neste fim de semana. Não cuidei da minha reserva de oxigénio, feito de palavras e lugar para me aninhar em mim. Deslizar suavemente pelas coisas, reconhecer os sons do quotidiano, aguçar a memória e a imaginação, refazer-me dos incómodos da semana. Poder lavar a alma.
E assim estou neste final de domingo, meia desconsolada e em falta com os meus rituais. Eu, que nesta fase, necessito urgentemente de arranjar um poiso, sereno e solidário, quente e conhecido, para me ajeitar ao mundo. Se tivesse treze anos diria que o mundo é mau, num expressão de recusa assertiva. Com cinquenta e seis anos, direi apenas que é complexo, aceitando as suas formas, desafios e perplexidades. Não dói menos, entender e racionalizar o que à nossa volta nos entra pelos olhos e pela pele. Pelos sentidos.
A idade não destrói as crenças nem as convicções.Nem as necessidades. Talvez as suavize, mas elas permanecem intactas e ás vezes redobram de força e energia. Tornam-se coisas prementes. Como o pão para a boca em dias de forme. E eu preciso do meu lugar. O que sempre tive por debaixo da pele e me faz ser quem sou.
O lugar como identidade(s), conjugada no plural porque é assim que deve ser, tal é o tamanho de que somos feitos. Para me reconhecer todos os dias e quando for ao espelho encontrar tudo no sitio certo: as rugas, a alegria, a esperança, o sonho. Sem ser preciso pôr base para disfarçar pequenas expressões de estranheza ou inquietação.
Rever-me de corpo inteiro no lugar de sempre, é o que quero. Com a força que sempre me inunda e a confiança na vida. Como pessoa e profissional.
Por agora, distraio-me com os muitos ruídos do quotidiano e a agenda carregada de quem me rodeia.
Não me refiz neste fim de semana e não cuidei de me tranquilizar no meu lugar.
Apesar de tentar, não o resolvi com este texto.
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