segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A força das palavras

Depois de um fim de semana por terras de Aveiro, perto da memória da minha mãe e da infância, regresso à cidade e à escola. Parece que estive muito longe, tal foi a imersão no verde dos campos, no azul da ria e na cor branca das garças que povoavam a terra mesmo à frente da janela da minha casa. Um fim de semana meio tristonho, mas cheio de aconchego(s). Os de sempre, que moram connosco no lugar do coração. 

E agora, mais uma semana. Respirar fundo e reiniciar o que parece ainda  pouco seguro. 

Chegaram pela manhã, com risos, abraços e alguns amuos, que isto de começar o dia é diferente para cada um de nós. Mil conversas entre eles e elas, pulos e saltos, caras paradas à espera que nos juntemos todos para planear o trabalho. Alguma confusão com quem fica ao lado de quem, negoceiam-se empréstimos de brinquedos e idas para as áreas, relembra-se o que ficou decidido na semana anterior, mas não ouvem, porque se instalam, com prazer, nas amizades já construídas e cimentadas ao longo deste pouco tempo de vida conjunta. Olho para eles e sinto-me dispensável, tal é a alegria do reencontro entre pares. 

Fico em silêncio a pensar que já muito cresceram, ali, na sala, palco de tantas vidas, ações, desejos, medos e confortos. Relembro o inicio e as brigas, os choros, a mão e o pé levantados com uma facilidade tremenda. Ainda é assim, mas com muito menos frequência. Agora, já aprenderam a usar as palavras em vez da impetuosidade do corpo sempre pronto para avançar sem olhar. Ainda assim é com alguns, mas aos poucos uma corrente de novas maneiras de ser com os outros vai tomando lugar e a dianteira e ouve-se com frequência: Manela, eu partilhei...eu trabalhei em equipa...e mostram as construções feitas a quatro ou a seis mãos, e pedem desculpa...e abraçam-se e apoiam-se e desenham a pares e pedem ajuda. E conversam.

E eu, olho e emociono-me. Gente pequena a aprender a ser gente, uma educadora a aprender a ser o melhor que puder ser, numa sala que já vai sendo património e lugar de todos. Ainda e sempre com diferentes níveis de inclusão e participação. Porque isto de pertencer a uma comunidade de meninos e meninas com adultos, é coisa muito difícil de alcançar. Pelo menos por estas bandas...mas para inicio de semana, não está nada mal. Eu corrijo. Está até muito bem, porque algumas palavras - mágicas - começam a ganhar terreno e raízes e a dar frutos. partilhar, ajudar, trabalhar em equipa, pedir desculpa...Sem falsos moralismos ou apelos normativos, mas como soluções e estratégias para uma convivência harmoniosa e respeitadora de todos e de cada um. Como alavanca para a construção da democracia na escola. 

Com gente tão pequena? sim, com gente tão pequena e tão capaz. Por isso é que podemos e devemos usar e abusar das palavras que permitem, ainda que lentamente, mudar as atitudes e os comportamentos das crianças. Para que sejam mais felizes e atentas ao mundo e aos outros. 

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