Precisamos de conversar. Dizer e falar da vida que nos acontece todos os dias para a tornar mais consciente e menos madrasta. Desfiar as contas do nosso rosário, proclamar as vitórias do nosso coração, amaciar medos e descobrir descansos. Descobrir descansos faz bem à alma e é urgente. Por isso fui ter com a minha amiga, sentei-me no sofá, ela serviu-me um colo e um sorriso, um chá de gengibre e canela, tempo e lugar no tempo dela.
Não pedi licença para abrir a boca, desatei a falar, meninos e mais meninos, estratégias e sustos de quem tem medo de fazer mal, porque fazer bem é difícil e leva tempo. Sobretudo requer a presença de outros, equipas fortes e solidárias que entrem em ação quando o corpo fica trémulo e esgotado. Porque nos podemos esgotar no tanto que queremos fazer. Foi isso que disse e foi a promessa que fiz. Poupar-me um pouco mais, reservar-me na minha lida, intentar outros devaneios, procurar o mar, ler um bom livro, redescobrir a poesia no castanho forte dos olhos das crianças. E deixar de lado, em dias mais azuis, o trabalho curricular como preocupação permanentemente.
A minha amiga também falou, formatação pedagógica, liberdade e meninos de rua, danças e canções de roda, famílias e expectativas. Depois bebemos o chá e falámos também de outras coisas. Sempre da nossa vida, sem medo, porque a amizade é uma estrada larga, com muitos sentidos e sem sinais de proibição.
Depois vim para casa, mais leve e amparada. O amparo é fundamental para irmos sendo, em modo pessoa, que é o modo que temos de ser gente com os outros. Principalmente os amigos, aqueles que têm tempo para nos dar e fazem-no generosamente. A sorte que eu tenho por ter alguns ainda assim. Já são raros nos tempos que correm.
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