Chove com força e as gotas batem vigorosamente nas janelas, varridas por um vento frio. É de noite neste sábado chuvoso e ainda que sentada obedientemente em frente ao computador, vagueio por muitos lugares, um pouco à solta, desprendida do muito que tenho que fazer. Não me apetece, muito menos escrever o que tem que ser escrito, coisas da escola, do trabalho, da formação. Não. Hoje quero-me isenta de obrigações, para me encostar à liberdade do tempo, esse bem precioso e escasso. Não sei que volta lhe dar, foge-me sem vergonha, é descarado e pouco obediente, distraio-me um bocadinho e já não o tenho disponível, brinca da minha necessidade de o querer grande e preguiçoso, a andar devagar como o caracol. Mas ele nada, risse dos meus pedidos e lamentos, da minha nostalgia em noites como esta, depois de um dia em forma de sol. Porque foi.
Deram-me um bebé para cuidar, doce e risonho, forte nas interações, brincámos e cantámos juntos, eu com palavras e ele com sons e movimentos, de cá para lá, de lá para cá, correndo a sala e os objetos, rindo para os gatos e estendendo-lhes as mãos. Houve tempo para tudo, mudar a fralda, comer a sopa, dormir, brincar. E muitas conversas. E beijos e abraços. Quando se foi, fiquei a pensar na vida e no tempo, na minha condição de amiga avó, parentesco herdado de uma amizade longa e profunda com a avó e a mãe. Conheci ambas há cerca de 30 anos, eu e a avó com 28 anos, a mãe, menina de 4 anos. E ligámo-nos pelas coisas da educação, troca de ideias e desabafos profissionais, num caminho que começou na relação professora aluna, mas que cresceu para além disso, misturámos famílias e sonhos, companheiros e filhos, vimos crescê-los e debatemo-nos com os seus caminhos e as suas escolhas, rimos e chorámos, ficámos amigas para sempre. Nesta relação, ensinei e aprendi muito. Sobretudo aprendi. Aprendi o valor e o sentido da amizade e da solidariedade sem preço e sem tempo contado, a alegria e o espanto de ser gente e amiga a qualquer hora e em qualquer lugar. Pela vida e para a vida.
Deram-me um bebé para cuidar, doce e risonho, forte nas interações, brincámos e cantámos juntos, eu com palavras e ele com sons e movimentos, de cá para lá, de lá para cá, correndo a sala e os objetos, rindo para os gatos e estendendo-lhes as mãos. Houve tempo para tudo, mudar a fralda, comer a sopa, dormir, brincar. E muitas conversas. E beijos e abraços. Quando se foi, fiquei a pensar na vida e no tempo, na minha condição de amiga avó, parentesco herdado de uma amizade longa e profunda com a avó e a mãe. Conheci ambas há cerca de 30 anos, eu e a avó com 28 anos, a mãe, menina de 4 anos. E ligámo-nos pelas coisas da educação, troca de ideias e desabafos profissionais, num caminho que começou na relação professora aluna, mas que cresceu para além disso, misturámos famílias e sonhos, companheiros e filhos, vimos crescê-los e debatemo-nos com os seus caminhos e as suas escolhas, rimos e chorámos, ficámos amigas para sempre. Nesta relação, ensinei e aprendi muito. Sobretudo aprendi. Aprendi o valor e o sentido da amizade e da solidariedade sem preço e sem tempo contado, a alegria e o espanto de ser gente e amiga a qualquer hora e em qualquer lugar. Pela vida e para a vida.
Por isso hoje a menina que agora é mãe, deu-me o seu bebé e eu deliciei-me e surpreendi-me com ele. E enterneci-me com tanta beleza e inteligência, tanta relação e competência social neste bebé, que nasceu de uma menina que conheci há tantos anos. E pasmei pela roda da vida que nos leva de volta à infância quando o tempo já nos empurrou para longe da juventude. E vim ter ao tempo que corre e foge e se escapa. e de novo me quis jovem e com oportunidade(s) para recomeçar. Com o cheiro e a pele do bebé em mim, a saudade a trespassar-me no corpo, a alegria a brigar com a nostalgia.
Mas foi um sábado bom, mais que perfeito. Não me apetece fazer nada, hoje já fiz quase tudo.
Mas foi um sábado bom, mais que perfeito. Não me apetece fazer nada, hoje já fiz quase tudo.
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