Domingo. Desta vez, dia de Páscoa. A mesa está posta com as amêndoas, o folar, arroz doce, sericaia. Os rapazes estendidos no sofá, os gatos dormem, cai sobre esta casa o silêncio. Apenas o barulho do teclado, o cair da chuva, os pensamentos e as memórias. Vagueiam num ir e vir manso, um pouco inconstante, entre a serenidade e a melancolia.
Faz-se a festa como se pode, é Páscoa, é preciso manter os rituais para que iluminem e incomodem o correr dos dias pardos, sem cor, que abundam há muito tempo. É preciso resistir, torcer o destino, aplacar a dor e a saudade. De tudo o que imaginámos ser realidade e apenas foi intenção. Mas o que não foi, jamais será, resta-nos a força para inventar outra ressureição.
E porque a fragilidade é hoje um estado de alma, visitemos Eugénio de Andrade para alimentar a persistência.
E porque a fragilidade é hoje um estado de alma, visitemos Eugénio de Andrade para alimentar a persistência.
Procuro-te
(...)
Chamo por ti, e o teu nome ilumina
as coisas mais simples:
o pão e a água,
a cama e a mesa,
os pequenos e dóceis animais.
onde também quero que chegue
o meu canto e a manhã de maio.
(...)
Porém eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime, procuro-te.
Na ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com ódio, ao sol, à chuva,
de noite, de dia, triste, alegre - procuro-te.
Eugénio de Andrade
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