Poderei pegar nas palavras e tecer o que em mim é luz, procura, consolo, dor e liberdade? Poderei urdir uma manta de ideias lisas, claras, transparentes? Ajeitar as palavras todas que vagueiam em mim, tecê-las com a melhor arte que me assistir, unir pontos e linhas e fios, tudo bem tecido e composto numa espécie de tela? Grande, plena, visível, para que as vejam e as possam fazer suas?
Poderei abrir a porta de casa e lançá-las aos quatro ventos, aproveitar a primavera que se aproxima, deitá-las no meio das papoilas e das mimosas, deixar que voem com alguma andorinha mais afoita ou cegonha distraída?
Poderei dar voz aos milhares de sons das palavras que ecoam dentro de mim, descobrir-lhes a essência, conhecer-lhes os trajetos e utilidade?
Poderei abrir a porta de casa e lançá-las aos quatro ventos, aproveitar a primavera que se aproxima, deitá-las no meio das papoilas e das mimosas, deixar que voem com alguma andorinha mais afoita ou cegonha distraída?
Tremendo é o cativeiro das palavras que nos tomam. Enredam-nos e prendem-nos num compromisso inquietante com a vida. Quero desocultar-lhes o sentido, libertar-me dos seus sinónimos, esquecer os antónimos, mapear com rigor os caminhos para ser feliz.
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