domingo, 20 de janeiro de 2013

Tarde demais

Não houve tempo para deitar as sementes à terra, regá-las com cuidado, apreciar o seu desabrochar e vê-las crescer. As folhas, as flores, depois os frutos. Não passámos do frio do inverno, embora tivéssemos sonhado com a primavera e desejado o verão. Mas não houve tempo.

E assim ficámos. Tristes, resignados e vencidos. Sem nada. Apenas uns livros e uns poemas, para levar debaixo do braço enquanto percorremos o jardim, que sem flores é uma paisagem inócua, neutra e limpa.

Não soubemos dar tempo ao tempo.

Hoje temos tempo de sobra para limpar todos os trilhos e canteiros do jardim, mas não há folhas, pétalas, bocados de troncos ou raízes. Está tudo absolutamente arrumado e certo, a nossa tarefa afigura-se inútil e o tempo de que dispomos, também.
Veio fora de tempo, como sempre acontece quando não podemos ou sabemos dar tempo ao tempo, no tempo certo. 

Não soubemos fazer como diz Eugénio de Andrade


Sê paciente; espera
que a palavra amadureça
e se desprenda como um fruto
ao passar o vento que a mereça.

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