sábado, 5 de janeiro de 2013

Madrugar ao sábado

Madrugo para sentir o dia e o dia está lindo e cheio de luz. Com o olhar pode-se alcançar a serra da Arrábida lá longe, se for para o lado da praia pode-se ver o mar calmo e azul. Se olhar mais de perto e para cima, vê-se a forma das casas e das árvores, parecem recortadas e coladas na paisagem.  Como se de um desenho ou de uma pintura se tratasse.  Tudo no lugar certo e cuidado, ainda é de manhã e aos sábados as ruas ficam assim silenciosas, limpas do seu agitado movimento dos dias de semana.  Claras, absolutamente claras e brancas. Tranquilas. É bom.
E cheia deste sentido, percorro os espaços vizinhos de mim e da minha casa, que quieta ficou no lugar, com toda a gente a dormir. É apenas uma casa, embora lá dentro se encontrem todos os enredos de uma família, história que vai sendo escrita quotidianamente há mais de vinte cinco anos, com personagens reais. Não há na casa gente inventada, nem varinhas de condão ou passes de magia.

As ruas que percorro também são apenas ruas e no entanto hoje, neste sábado, parecem avenidas largas, amplas e com um convite explicito para que nos percamos nos seus atalhos.Atravesso-as de lado a lado, num gesto atrevido de liberdade. O vento, que é apenas uma brisa, toca nas folhas das árvores que moram por aqui e dá-lhes vida. Movimentam-se para cá e para lá, numa dança lenta e descompassada.

Tomo o café, agora sem açúcar, aprendo o sabor sem o doce, parece que é mais saudável, embora vá demorar um pouco, dizem-me os cá de casa. Aceito. Espero para ver, sou paciente e determinada. Às vezes, claro. E depende.

Depois vou comprar o jornal, sou fiel a este gesto, define os meus sábados e apesar de fazer contas à vida, neste dias de poupança obrigatória, não me desligo do jornal e do prazer de o ler. On-line não, obrigada. Pois, eu sei, é mais económico e até moderno, mas neste aspeto sou uma conservadora, faz-me falta o cheiro e o toque do papel, gosto de ler as letras gordas e as magras e de as ter impressas. Para além do conteúdo dos textos, gosto de olhar para o grafismo, as cores, as imagens. O rosto familiar do jornal.

Regresso a casa. O dia continua lindo, lembro-me do filme "A cidade branca" e embora não esteja em Lisboa, adapta-se bem ao que vejo e que tento colar a mim: luz, claridade, silêncio e frio, numa manhã belíssima de sol. Abro a porta. Silêncio. Continuam a dormir. O meu gato faz-me as honras da casa, encosta-se às minhas pernas e ronrona. Quer comer e sabe que responderei ao seu apelo. Assim faço e abro o jornal. Lerei apenas e por agora as gordas e deixo para a noite o resto. A manhã já vai a meio e impõem-se algumas tarefas. Tiro o casaco e penduro-o no cabide.
Certifico-me que o sol e a claridade continuam dentro de mim.

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