quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Dia inesquecível

Queria-me agora como há 27 anos.
Estar à tua espera, com a barriga muito grande, curiosa e calma, que medo nunca tive, não me perguntes porquê. Ir para o hospital no dia 25,  exatamente quando o médico disse que nascerias, ter o avô e a avó à tua espera e alguns amigos também. Com chocolate e sumo. E o jornal "sete", para eu ler na cama do hospital onde te fui acolher. Da minha barriga para o mundo, primeiro para o nosso, aquele que à partida te foi dado, por teres nascido de mim e do pai.

Queria muito que a avó estivesse agora aqui connosco. Lembro-me dela a entrar no hospital, com o braço do tio por cima dos seus ombros. A sorrir, parecia atrapalhada.  Amou-te desde o dia em que te viu e assim continuou pela vida fora. Foste o neto preferido, não que o dissesse, mas via-se na maneira como descansava os olhos em ti. Admirava a tua maneira de ser e a tua disponibilidade. Esperava que viesses da faculdade, para almoçares e contava-te todos os seus segredos e lamentos. Achava-te um bom ouvinte. E ria-se a bandeiras despregadas quando, a brincares com ela, imitavas o seu jeito de andar. Gostava que ela aqui estivesse e te olhasse de alto a baixo, encantada, a sorrir. E depois de um silêncio longo, sentada no sofá, dissesse  "é bonito, não é? está feliz, não está?". Se te sentisse triste, entristecia também.

E queria ter-te de novo a nascer. Ou pelo menos, sentir o calor da tua pele contra a minha e os teus bracinhos à minha volta. E os risos e as  brincadeiras e a tua atenção. Sempre extrema, sempre presente, sempre aguçada e inteligente. Olhavas para as coisas à tua volta e sabias exatamente o que elas queriam dizer. Sabias, mesmo sem saberes dizer. E eu sabia que sabias. A nossa comunicação sempre foi intensa, suponho que isso acontece entre todas as mães e filhos. Talvez com uns mais do que com outros. Pelas mães e pelos filhos, claro, e pela forma como conseguem "exercer" essa condição.

Queria voltar a sentir o teu cheiro de bebé, as covinhas que fazias quando rias, o teu ar lindo vestido de cor de rosa. Sempre quis contrariar os esteriotipos e os meninos de azul não tinham assim tanta piada. Quer dizer, ficavas muito mais bonito de rosa, uma cor suave que contrastava com a tua pele morena. Tenho muitas fotografias dessa altura, tu a sorrires, muito fotogénico. Pudemos tirar muitas, ainda não dizias que não, só começaste a recusar fotografias muitos anos mais tarde.

Como não podes voltar a nascer, nem eu posso voltar a ter uma barriga enorme, amanha, vou dar-te um beijo, ver muitas fotos tuas e deixar que a saudade me invada. Ando saudosista, eu sei, à procura de mim e de nós, na vida e no futuro. Sempre fui assim, continuo assim. É uma espécie de projeção, de voo direto para a frente, uma espécie de lançamento de dardo, uma corrida de fundo. E ninguém, nem mesmo uma mãe, se aventura para o futuro, sem pegar balanço no passado, arquear o corpo e lançar-se.

Nada melhor para este golpe de asa que relembrar os dias inesqueciveis da vida. Como aquele em que nasceste, 25 de janeiro, um sábado com chuva e vento, em Lisboa. Parabéns, filho. 

3 comentários:

  1. Felicidades a mãe ao filho.
    O amor por um filho é inacabável cada dia que passa os amamos mais, cada dia sorrimos por eles, cada dor,cada alegria deles também é nossa.
    Quantas vezes ao lhes darmos um beijo ou aconchegá-los na cama agora já crescidos vimos que ainda são os nossos eternos bebés.
    Ser mãe é o melhor do mundo..
    Felicidades ao seu filho que a vida lhe sorria, que seja feliz.

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  2. Parabéns atrasados Manuela! Somos nós as guerreiras! Beijos sabura

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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