Não gosto do vento frio e agreste, dá-me desconforto e fragilidade, uma espécie de mau estar, de coisa inóspita, raízes secas a desprenderam-se do chão, areia e espaço aberto, sem ponta de abrigo, lugar essencial para me aconchegar. Estou assim hoje e tenho andado assim. Estonteada pela vida, absorta em mil pensamentos, presa à realidade, sem lhe vislumbrar sonho e poesia. Fogem-me as palavras, foge-me a arte de lhes revelar os contornos, perde-se a magia e o riso claro de as escolher, com encanto e liberdade. Não consigo mais inventar outro tempo, neste tempo. E preciso.
Para me recompor e recuperar do que vejo e me cerca, um mundo quadrado, com linhas fechadas, gente de galões com certezas feitas, destinos marcados antes de serem vividos, horizontes sem a luz doce do anoitecer que antecede as manhãs justas de alegria.
Não consigo mais inventar outro tempo, neste tempo. E preciso. De voltar a sentir que as palavras são o reino onde construo os cenários da vida, sem limites para a sonhar e sentir a escorrer e a perder-se, vertiginosa, com as batidas do coração e a força do sangue que corre nas veias. Coisa forte e mobilizadora, uma espécie de resistência ao desgaste e à impotência. Coisa alegre. Coisa nova.
E preciso. Para rasgar as vestes que escolhem para me vestir, todos os dias, teimando que a vida é aquilo que é, olhando de soslaio para os meus sonhos de mulher adulta, com idade para ser mais razoável, dizem. De tanto dizerem quase me convenço, embrulho a emoção e enrolo-me em mim, perco o sonho e as palavras, fico pobre e menos capaz.
Por isso preciso de encontrar de novo a magia das palavras. Elas são espada, flor, luz e claridade para reinventar os dias e a vida. Teimam em não chegar, por agora. Contudo espero-as, expectante. Será que vão demorar?
E no entanto, o teu escrito nega esse desencontro com outro tempo, com as palavras e contigo mesma. A escrita desse desconforto que te assola, acabou por te deslocar para esse outro espaço. Pelo menos eu sinto-o e sintonizo-me com a tua subjectividade. Pela escrita permitiste esta intersubjetividade. Obrigada amiga!
ResponderEliminarobrigada também Inácia por comentares. É bom ficar rodeada de gente que sente e nos sente. É um bálsamo contra a solidão...porque há muita gente, mas há falta dos que connosco podem sonhar...bjs grandes
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