Está a chegar. Sentimo-lo no frio que gelas as mãos, no calor que aquece o coração, na luz das estrelas que inundam a cidade. Podemos até não gostar muito dele, comentar o seu consumo desenfreado, negar a solidez do dia, não ligar ao menino que de tão pobre nasceu no estábulo, mas ele está a chegar.
Ele está a chegar e convoca todos para comemorar. Vem em forma de sino, laço vermelho no topo da árvore, música celestial, cartão de boas festas e renovação de votos. Enche-se de encanto e vaidade, retoca o aprumo e apresenta-se, de novo, em cada ano, em forma de mesa posta e cuidada, travessas doces e sorrisos prontos, numa noite de enlaçar dedos, oferecer abraços, prolongar regaços.
E nós esperamos por ele, resistindo à abundância sem rei nem roque, confirmando os colos e as palhinhas que nos encheram o corpo de identidade. E comemoramos quem somos, por via de quem nos fez, nos retocou e andaimou para a vida que hoje temos e vivemos. Mães, companheiros, filhos, irmãos, amigos.
Abrimos a porta do tempo e da paisagem onde estamos esculpidos, caminhos mapeados ao longo de anos, planícies, escarpas, mares eternos e florestas densas e convidamos todos para connosco estarem. Construímos um presépio vivo com aquilo que temos e somos, agradecendo aqueles que, com candeia acesa, nos iluminaram os dias e amainaram as noites. Presentes e ausentes.
Ele está a chegar, é natal no mundo e no quente das nossas casas. Assim pudesse ser para todos.
Sem comentários:
Enviar um comentário