sábado, 5 de abril de 2014

Retrato

No meio da arrumação, eis que descubro, numa prateleira mais escondida, um album de fotografias dos meus tempos de menina e moça. 21 anos e uma festa, lá para os lados da nossa terra. Muitas fotografias, todas com muitos sorrisos e felicidade, lembro-me.

No fim do album, meio esquecido, um retrato vosso, teu e da mãe, lindos e calmos, tu com o braço por cima do ombro dela, cabeça inclinada, sorriso meio nostálgico, ar de rapaz de 20 e tal anos. A mãe, de cabelo preto e ar doce, também a sorrir, entre a alegria e a saudade, parece. Por detrás, a paisagem vista da nossa casa, as árvores mesmo em frente da casa da vizinha, uma terra de milho pronto a debulhar, algumas flores brancas no nosso jardim. E a neblina. Sempre a neblina, o cartão de visita da nossa terra, quando o dia nasce pela madrugada e  as manhãs ficam frescas e cheias de um musgo húmido, salpicado de gotas de orvalho.

Fiquei cheia de alegria e saudade, a olhar para o vosso retrato. Tinha-me esquecido da cor do cabelo da mãe, assim nova e mulher de 50 anos. Da sua juventude, da sua pele e da sua beleza. Trigueira, como lá se diz. Cor do sol e da palha do milho. E tinha-me esquecido do teu ar de menino lindo e meio timido, sedutor e menineiro. Jovem e cheio de sonhos, discretos e um pouco escondidos, parece.

Olho para a fotografia e alegro-me, ainda que um pico de nostalgia me percorra o coração. Descubro de novo a nitidez dos afetos, em dois rostos de amor para sempre. Mano e mãe, num dia feliz.

E revejo-me, nesse dia, menina moça, com as certezas que possuia e uma fé inquieta para mudar o mundo. 
É bom começar assim um sábado cheia da vossa presença, amores da minha vida. 

Sem comentários:

Enviar um comentário