A minha amiga fez anos. Mais um. E como sempre não disse nada a ninguém. Como sempre muitos amigos telefonaram e alguns apareceram para um café. E risos de amizade antiga e incondicional.
A minha amiga não é jovem, mas tem um ar decidido e frontal e uma cabeça de gente que olha o mundo para lhe conhecer os truques e as novidades. A minha amiga, apesar de às vezes se virar para dentro, gosta de olhar para fora, para os lugares onde a vida acontece, com mistérios e enredos. A minha amiga conhece da vida os seus sabores mais exóticos e menos comuns, que viu e absorveu em paisagens, amores, livros e sonhos . A minha amiga podia ser estrangeira, tem ar de cidadã do mundo, pelas viagens que enceta sempre que a coração lhe pede liberdade e lonjura. De caminhos e encontros.
A minha amiga tem a arte de bem acolher e bem cuidar, estende a toalha da mesa e compõe vezes sem conta as chávenas do chá e a taça dos bombons que oferece nas tardes de conversa amena. A minha amiga dá-nos o seu melhor sofá e ajeita a posição da almofada, para que possamos descansar das aflições dos dias.
A minha amiga demora-se nas coisas que faz, livros que afaga, sopas que inventa, arrumações de mala de mulher distraída, pentear-se e pôr creme pela manhã. A minha amiga esquece-se das horas e do tempo e de outras coisas sem importância, mas não se esquece dos amigos. E nós não nos esquecemos dela.
Por isso, a minha amiga fez anos e nós fomos atrás dela e demos-lhe risos e abraços. E comemos um doce na casa dela. E ela deu-nos o seu melhor sofá e mandou-nos descansar. Como sempre.
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