domingo, 20 de abril de 2014

Dia de Páscoa

De volta ao meu aconchego, como diz a canção, estou de novo em casa. Respito fundo. Aqui estão quase todas as coisas que me pertencem e me constituem. Apesar de gostar muito de viajar, gosto do cheiro do meu lugar, do meu canto, do meu indispensável espaço fisico e emocional. 

E hoje é domingo de Páscoa. Para além do jornal, comprei flores, tulipas, depois compu-las com verdes do jardim e alindei a sala. O folar também está na mesa, depois do almoço de borrego e de uma belissima salada de frutas. Desta salada que todos apreciam, uma jovem espanhola que um dia cá veio a casa disse mui rica. E é assim que ela está, colorida, gostosa e mui rica. Também há amêndoas, de chocolate e canela e dois coelhos lindos de chocolate que uma amiga me deu. E uns sonhos, ainda quentes, que uma outra amiga me deu, quando passei há pouco lá por casa, para lhe dar um abraço. Amigas do coração, grandes e importantes na minha vida. Tesouros absolutos, árvores grandiosas com muita sombra, onde posso descansar e temperar forças, sempre que o sol aperta e não há água que sacie a sede. Elas estão lá e dão-me sempre um jarro de água fresquinha. Nada a temer, portanto, nas longas jornadas que de vez em quando teimo em empreender.
Tulipas flor vermelha com ovos de Páscoa
Assim calma e alindada, doce e florida, a casa parece dormir, e é domingo de páscoa. Falta o cortejo do padre, quando eu era pequena, que na minha aldeia, se deslocava de casa em casa, a dar a boa nova da ressureição. Eu gostava desse dia e desse ritual, a campainha a anunciar a chegada, as casas muito arrumadas e bonitas, a porta da casa do senhor aberta, para bem receber. 

E a garotada de olhos nas amêndoas de dia de festa, iguaria de luxo anual a não perder. E prenda dos padrinhos que era quase sempre uma regueifa grande e uma nota, para o mealheiro. E o som dos sinos da igreja a tocar muito alto, em tom de alegria e ressureição. Parecia que tudo ficava vestido de novo.

Hoje o dia vestiu-se de cinzento, não se ouvem os sinos, não temos o cortejo, já não somos crianças, e os padrinhos também já partiram há muito. Por isso fui comprar flores e alindei a casa e a mesa e pus a tocar o Messias de Handel e ouvi a faixa Aleluia. Para sentir o cheiro da Páscoa e a alegria da renovação da vida. 

Em Abril, como prelúdio para a comemoração do dia da liberdade, que vai ser nesta semana e que já faz 40 anos. Semana cheia.
 

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