Domingo. Lembro-me da minha avó, da ida à missa e da volta pela praça, da broa quente e do cheiro a café, das roupas domingueiras e dos bons dias alegres que dávamos entre todos, porque o domigo era um dia diferente, mais livre, sem o trabalho e as obrigações da semana. Às vezes a aletria e o arroz doce tinham lugar de destaque à mesa e isso era muito bom. Doce.
Quando cresci e me vi na minha vida, mulher jovem e independente, com a revolução de costumes na cabeça e no propósito, quase fiz tábua rasa deste ritual, para marcar a postura de que domingo é quando um homem quiser e assim, deitar fora sem deitar, o tradicionalismo e o mofo pressentido nestas práticas.
Quando fui mãe, com os crescimento dos rapazes, os domingos viraram tempo de descanso, brincadeiras no parque, piqueniques na mata dos medos, ida aos jogos de andebol para apoiar a equipa, durante muitos anos. Apesar disto, o descanso nunca mais foi aquele da infância, porque a profissão sempre foi rainha nesta casa. Um modo de estar no mundo e na vida. O domingo para fazer mil e umas coisas, relatórios, trabalhos da licenciatura, investigação do mestrado, teses de doutoramento.
Hoje que os rapazes já voam com frequência para fora do ninho, fico-me para aqui a pensar na vontade de fazer arroz doce e um folar, pôr a mesa mais linda que souber, beber o café na mesa e demorar nas conversas. E tê-los ao pé de mim, a rir, homens feitos de um tempo apressado, mas disponiveis e atentos, sensiveis.
E reclamo domingos com rituais, para nos enlaçarmos um pouco mais, que a vida é fugidia, esgotante e instável e precisamos de temperar, com mestria, o sal e o mel dos dias.
E reclamo domingos com rituais, para nos enlaçarmos um pouco mais, que a vida é fugidia, esgotante e instável e precisamos de temperar, com mestria, o sal e o mel dos dias.
Continuo a pensar que as coisas, quase todas as coisas, são quando um homem quiser, porque a liberdade de nos construirmos e nos dizermos não deve obedecer a um figurino único. Mas estou hoje mais convicta e mais segura de que o tradicional não fere, por si só, a inovação, nem a autenticidade, nem o progresso. E que isso só depende de cada um.
Saudade? velhice? maturidade? Tudo junto, talvez, e a vontade de comer arroz doce junto dos que amo, aos domingos. Com tempo.
Também sinto essa vontade de tomar tempo para o que gostamos;
ResponderEliminarTambém tenho dois rapazes-homens que voam, cada vez mais, fora do ninho;
Curiosamente, também por cá se gosta de arroz doce ;-)
Acho que acontecerá um pouco com todos nós, que da vida lhe vamos levando já um bom caminho e um bom par de anos...
ResponderEliminarJá tinha percebido que nessa casa havia dois rapazes filhos. Agora gostarem também de arroz doce..
um doce domingo...