Andam a bailar imagens e palavras em mim. Suaves, mansas, algumas espraiam-se como se praia tivessem, outras recolhem-se, timidas, depois de terem assomado à janela do dia e não terem poiso para se aninharem. Imagens e palavras intactas, com sons e cheiros entrelaçados, por certo comandadas pelo bater do coração e o desembrulhar da memória.
Andam a bailar imagens e palavras em mim: o riscar do lápis no papel, frases ditas em tom solene e inquieto, uma falésia num extremo da terra, becos íngremes de uma cidade, casas sóbrias, decoradas a castanho e verde seco, rostos de homens e mulheres, corajosos e inquietos. Alguns muito duros. Capazes de arrasar mundo, tenazes e decididos. Para o bem e para o mal.
Andam a bailar imagens e palavras em mim: o crepúsculo do anoitecer com rio ao fundo, o som das portas a abrir, o esgar de um sorriso, o silêncio do medo, beijos apaixonados numa viela, diálogos saldados com cerveja e cigarros, perguntas e respostas em tempo(s) de ditadura. E os olhares de raiva e ódio dos que tomam como suas, razões para torturar. E amordaçar a liberdade. As mãos destruídas que já não tocam Mozart.
Andam a bailar imagens e palavras em mim: viagens de barco, com o rio azul e vento, lojas de camisas e portadas com postigos, óculos de ver ao longe e ao perto, estações de combóio, livros como arautos de outro futuro, amizades e compromissos sujeitos à roleta da vida. E do ciúme e da fúria. Mas também da esperança.
Andam a bailar imagens e palavras em mim, porque ontem fui ver "Combóio noturno para Lisboa" e como não sou critica de cinema, posso desfiar sem receio, ao correr da pena, impressões que me ficaram. Numa seleção breve, perante tanto que gostei do filme.
Por isso, hoje, andaram a bailar imagens e palavras em mim. Muito mais que estas.
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