sexta-feira, 12 de abril de 2013

Palavras emprestadas: Cativa-me, por favor

Na véspera de mais um fim de semana, em abril, de novo o principezinho, para reler e pensar naquilo que nos pode ligar uns aos outros, se soubermos e pudermos ter tempo e espaço nos agitados dias que nos consomem. Para criar vagareza e descobrir o essencial, que parece ser invisível aos olhos. Escutemo-nos e escutemos os outros.  Pacientemente. Têm tempo?   

"Foi então que apareceu a raposa
- Bom dia, disse a raposa
- Bom dia, respondeu delicadamente o principezinho. Quem és? És bem bonita! anda brincar comigo. Estou tão triste!
- Não posso brincar contigo, ainda ninguém me cativou, disse a raposa
- O que significa cativar?, perguntou o principezinho 
- É uma coisa demasiado esquecida. Significa criar laços, disse a raposa
- Criar laços?, perguntou o principezinho
-Isso mesmo. Para mim não passas de um rapazinho semelhante a cem mil outros rapazinhos. E não preciso de ti (...). Mas se me cativares, precisaremos um do outro. Para mim tu serás único no mundo. Para ti eu serei única no mundo...(...). Por favor, cativa-me, pediu a raposa 

- Não me importo, mas não tenho muito tempo.Tenho amigos para descobrir e muitas coisas para conhecer, disse o principezinho. 
- Só se conhecem as coisas que se cativam. Os homens já não têm tempo para conhecer seja o que for. Compram coisas já feitas nos comerciantes. mas como não existem comerciantes de amigos, os homens já não têm amigos. Se queres um amigo, cativa-me, por favor, disse a raposa.
- O que é que é preciso fazer? perguntou o princepezinho
- É preciso ter muita paciência. Primeiro sentas-te na erva, assim um pouco afastado de mim. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal entendidos. Mas de dia para dia, podes sentar-te cada vez mais perto. Se vieres sempre às quatro horas, às três eu já começo a ser feliz. Quanto mais se aproximar a hora, mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já estarei agitada e inquieta (...) mas se vieres a qualquer hora, ficarei sem saber a que horas hei-de vestir o meu coração. Os rituais são necessários.
- O que é um ritual? disse o principezinho
- É também uma coisa demasaido esquecida, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias, uma hora das outras horas. 
E foi assim que o principezinho cativou a raposa. E quando chegou a hora da despedida, a raposa disse:
- Ai, ai que me vou pôr a chorar...
- Então não ganhaste nada com isso!, disse o principezinho
- Ai isso é que ganhei...por causa da cor do trigo, disse a raposa
- Adeus, disse o principezinho.
- Adeus. Vou contar-te um segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos. Foi o tempo que perdeste com a tua rosa, que tornou a tua rosa tão importante. Os homens já se esqueceram desta verdade, mas tu não te deves esquecer dela. Ficas para sempre responsável por aquele que cativaste"    Antoine Saint - Exupéry

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