terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Uma pausa

Uma pausa. Preciso de uma pausa, abrandar o correr dos dias, apreciar o sol ao fim da tarde, sentir os cheiros da primavera que tarda, demorar-me, com tempo, no desenho de uma criança. E alcançar um pouco de serenidade, esse estado que talvez nos falte, por agora.

   Desenho da Maria Rita - 3 anos e meio
Preciso de uma pausa. De silêncio para ouvir o bater do coração, procurar-lhe os seus dialetos mais íntimos, restaurar o primado da delicadeza e da atenção. Combater a inflação e o desvario de tanta palestra e opinião. Preciso de olhar os lírios do campo e encontrar a insustentável leveza do ser.

Porque estamos pesados e sem rumo. E falamos sem pensar e pensamos sem falar. E inundamos as redes sociais com ideias e desabafos e senso comum. E discutimos e impomos e esgrimimos. E  corremos à procura de mais, da última ideia certa para este tempo que não sabemos qualificar. Mas qualificamos, às vezes levianamente. Queremos entender e nessa ânsia desmedida, lançamo-nos a tudo e apontamos em todas as direções. Estamos cansados e sem filtros.   

Preciso de uma pausa. Para esquecer a vida que nos cerca? não, para a olhar com mais rigor, humildade e pesquisa. Para esquecer os erros e disfarçar? Não, para compreender e atuar, com intencionalidade e cuidado ético. Para nos tornarmos mais úteis e mais competentes. Mais serenos, resilientes e guerreiros. Mas com as armas certas e pensamento robusto. 

Preciso de uma pausa, para reorganizar, em silêncio, razão e emoção, combate e resistência, amor e rebeldia, liberdade e direitos. E esperança. E futuro. 

Preciso de uma pausa para aprender a lidar melhor com o que sinto, ouço e vejo. Silêncio, por favor. 

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