domingo, 30 de março de 2014

De novo, a pedagogia, ao domingo

A chuva cai forte nesta primavera com sol desistente e uma paisagem de quase inverno. O vento sopra e a água cai contra as janelas e as telhas do sótão. Não fora o desejo de ver luz e sentir calor, diria que está um bom domingo para trabalhar, aqui no computador. E há que fazer, claro, há sempre muito para fazer.  Pensar a semana que se aproxima, dar-lhe um sentido pedagógico, incrementá-la da maior intencionalidade possivel. Aquela que melhor poderá servir as necessidades e caracteristicas das crianças, as reais, as que habitam o espaço e o tempo, naquela sala. 

Esta regra ou principio, muito valorizado e preconizado no léxico dos profissionais é dos mais dificeis de cumprir na prática. Apesar das tentativas da procura de estratégias que partam do curriculo natural da criança, do que ela é e já sabe, da sua história e modos de vida, com alguma facilidade escorregamos para os seus défices e planeamos, com convicção, atividades e situações que possam ensinar o que falta aprender. E também com alguma facilidade não respeitamos o ponto de partida e os ponto de chegada de cada criança, porque as metas, muitas vezes, se impõem ao processo e ao caminho realizado e a entidade grupo se apresenta mais real e mais presente que cada um dos elementos que o compoem. 
Identificar e atender às necessidades e carateristicas de cada criança e do grupo, coloca muitas vezes a profissionalidade do educador de infância em questão. 

Casa e família esboçou pacote vetor do DoodleO que faço aqui? é pergunta que nos atravessa em alguns dias, quando as propostas apresentadas não obtém os ganhos que imaginámos e a intencionalidade vira coisa sem sentido. Quando a atividade nobre planificada fica aquém do interesse dos nossos meninos, porque estes, apesar de teoricamente prontos para aqueles conteúdos, estão noutro ponto e com outras necessidades. 

E nós que as identificámos e bem, delas fazemos o acessório em vez do essencial. Por ignorância? não creio, sabemos o que dizemos, falta apenas, com convicção, colocar cada coisa no seu lugar e não ceder a pressões - escolares e sociais - do que é ensinar e aprender na educação de infância. Falta apenas, com lucidez, não ir na onda dos conteúdos curriculares, que se colam na ponta da lingua dos meninos, mas não em processos de aprendizagem efetiva. Falta apenas saber eleger como fundamental a resolução das birras, por exemplo, como uma componente central do currículo, tão importante - ou mais - do que a divisão silábica. 

E é isto que em muitos dias causa ambivalência na profissionalidade do educador. Ou melhor, na minha. Parece que não cumpro o que devo cumprir.

Exagero? talvez, na pedagogia como na vida, as situações não são apenas isto ou aquilo, mas revestem-se de multiplas caracteristicas, nada lineares, antes imbrincadas umas nas outras, com muitas ligações e contaminações positivas entre si. Quero eu dizer que na intervenção com as crianças não somamos ou dividimos em compartimentos estanques os conteúdos, antes tentamos mobilizá-los, a propósito da(s) história(s) que vamos contruindo na sala, com as crianças e para as crianças.  

Porque é então recorrente esta minha preocupação e hoje me assaltou mais uma vez, em dia de planificação? Porque o perigo de pensar o fazer pedagógico perfeito, correto, para além da realidade, é sempre uma tentação e uma afirmação da nossa representação como profissionais. 
 E eu quero-me o mais possivel lúcida e atenta. Ainda que muitas vezes, não nego, em contradição identitária. 

1 comentário:

  1. Soube-me tão bem ler isto agora.....!
    É aqui que me encontro ou desencontro, entre as metas e pressões escolares e a felicidade e o interesse dos meus alunos.

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