segunda-feira, 24 de março de 2014

Colos

Neste fim de semana que passou não houve escrita. Pois não. Para além de trocas pedagógicas no sábado, um espécie de gripe e má disposição atacou-me de verdade, o que me fez recolher no sofá ao final da tarde, com chá e torradas. E sono, muito sono. Nos momentos de vigília, apesar das dores, o meu coração a disparar em muitas direções, que a vida nunca é una nem simples e a nossa capacidade de a gerir tem limites. E fracassos. Pensar com o coração nem sempre é bom, dizem, mas eu não tenho outra forma de o fazer. Eu e outros, creio, porque somos muito mais do que aprendemos, há muitos anos, na escola: cabeça. tronco e membros.  E o resto? está cá tudo e tudo é mobilizado quando pensamos. Integramente. 

Meia prostrada, mobilizei imagens e pequenas porções de vida, assim sem qualquer critério, iam e vinham conforme o sono deixava, e eu a atentar arranjar soluções ou outras formas de fazer. Vi as crianças na escola, os filhos em casa, o companheiro de sempre, amigas e colegas. Lembrei-me de coisas que tinha que fazer, outras por dizer e tomei nota daquelas que não valia a pena reter. Seria bom, mas mesmo bom, deitar fora. Mas eu sou uma rapariga de guardar afetos, de os deixar quase secar na imensidão do tempo, passam as estações e eles continuam, pesam que se fartam e eu sem coragem de lhes dar sumiço, como dizia a minha avó. 

A minha avó Carmina não apareceu nos momentos de vigília, mas agora que penso nisso, bem que precisava. O seu ar despachado e a prontidão com que rematava  uma ideia e a tornava decisão, seria um bom apoio nesta altura. Estão muitas coisas pendentes nos meus dias e eu a engonhar, outra expressão lá de cima e da minha infância. Se não fosse a minha avó, podia ser a minha prima.. 

Mulher decidida e frontal, olhos vivos de quem vê ao longe, apoio contagiante e sempre presente, quando eu era mais nova, ficávamos na cozinha da casa dela a beber café com leite e a conversar sobre a vida. Ou então, ainda mais novas, a cantar canções ao luar ou a ver a patinagem artística, com os miúdos - que já são graúdos - a tentar dormir nos cobertores, que punham no chão da sala mesmo ao pé de nós. E nós, sem sono e muito empenho, a retocar as formas de sermos gente, numa terra de barcos, moliço e muita tradição. Nós a inventar mundos, com alegria e partilha. Tenho saudades disso e da força da minha prima. E do riso. E da juventude. 

E já agora, saudades de, quando danada, se virava para os filhos e o companheiro e dizia cheia de energia até vozengulo. Não traduzo, é uma expressão só dela, que todos lá em casa sabem o que quer dizer e eu também. Já nos rímos muito, a propósito disto...
Preciso de ir a Aveiro, para pôr a escrita em dia. Sei que há por lá café com leite e o acolhimento de sempre. 
É disso que estou a precisar para dar sumiço a imagens das vigílias do fim de semana.


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