quinta-feira, 13 de março de 2014

Dia do pai? eu não tenho...

Cantávamos, com alegria - e isso nem sempre acontece - uma canção sobre o pai, para "oferecer" aos pais no dia 19. De repente, um menino, muito em silêncio, começou a chorar e parei, alertada pelas crianças. Quando o chamei para ao pé de mim e lhe perguntei o que tinha, o choro fico mais alto, misturado com soluços. Agarrou-se a mim, meteu a cara contra o meu peito e quando conseguiu, disse: eu não tenho pai Abracei-o e quase que me ouvi dizer mas isso não tem importância, pronto, não chores..."ainda bem que não disse, teria sido leviandade, claro que tem uma importância enorme, que em muitos dias deve invadir o coração deste menino - e de outros -  e escurecê-lo de tristeza e desassossego. 

Abracei-o e repeti o que já tínhamos conversado de manhã que há meninos e meninas que não vivem com o pai, mas todos têm um pai - ou tiveram. E nesse momento, demos voz e vez aos que estão nessa situação, para partilhar o que quisessem com os amigos. Com as palavras que puderam, os meninos e meninas contaram o que sentiam e o que lhes dizem para contar e sentir. Entre pais emigrados em diferentes países, que fazem visitas de vez em quando e outros perdidos na nossa terra, mas que nunca aparecem, as crianças lá foram falando e nós seriamente convencidas de estar a dar a oportunidade de incluir todas as realidades familiares presentes. 

Não está mal, será eventualmente o mínimo a fazer, mas depois, meias levadas na onda da comemoração, aí vamos nós, cantar, desenhar, fazer uma prenda, fazer convites...para um doce e um mimo a viver na sala, no dia 19. 

Se só falamos dos pais? Não, acontecem muitas outras coisas na sala, mas não há dúvida que o pai está presente e é uma figura "trabalhada". E quem não a tem, de facto? sim, é certo, pode dar a prenda a outra pessoa, mas não impede que sinta saudades e tristeza de não a dar ao pai. De tanto se falar no pai, as crianças que não o têm, sentem-se menos acompanhadas e algumas...choram. 
As que o conseguem fazer. 

Desde ontem que ando a remoer esta questão que não é nova e para a qual estamos há muito sensibilizadas. Estaremos de facto? Não vestimos com facilidade o papel de arautos da maioria e das famílias tipo? Espero bem que não cheguemos à defesa tola, ainda que disfarçada, de que o normal é termos um pai e uma mãe e que apenas assim seremos felizes. 
Não é que isso seja completamente mentira, na nossa organização social. Mas cumpre-nos um outro desígnio de trabalhar contra a corrente e construir alternativas e oportunidades para os que ao nascer noutras famílias e realidades, possam encarar a vida e o futuro com igual segurança e amor. 

Não sei como, mas inventem-se novos dias do pai. A pedagogia não pode ficar indiferente a esta questão e eu também não. 
Já nem me apetece cantar a canção...

1 comentário:

  1. E o mesmo se aplica ás (aos) que não têm mãe!


    Para Sempre

    Por que Deus permite
    que as mães vão-se embora?
    Mãe não tem limite,
    é tempo sem hora,
    luz que não apaga
    quando sopra o vento
    e chuva desaba,
    veludo escondido
    na pele enrugada,
    água pura, ar puro,
    puro pensamento.

    Morrer acontece
    com o que é breve e passa
    sem deixar vestígio.
    Mãe, na sua graça,
    é eternidade.
    Por que Deus se lembra
    - mistério profundo -
    de tirá-la um dia?
    Fosse eu Rei do Mundo,
    baixava uma lei:
    Mãe não morre nunca,
    mãe ficará sempre
    junto de seu filho
    e ele, velho embora,
    será pequenino
    feito grão de milho.

    Carlos Drummond de Andrade

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