terça-feira, 15 de outubro de 2013

Pedagogia

Escuto-os, observo para compreender, converso e deixo conversar e sinto que não chego para tanto que vejo. Os abraços não retiram o choro que surge por coisas de nada, a atenção não evita zangas e empurrões, as estratégias revelam-se relativamente falíveis. O mundo que ali está vem carregado de outros dias e noites, histórias cheias de outras histórias, vidas muito compridas e densas para gente tão nova. E entram a sorrir, mas muitos motivos fazem surgir a impaciência, as dificuldades de partilha, a impossibilidade de dizer por palavras o que o coração sente. São outras linguagens que se habituaram a usar e agora é preciso um tempo largo para aprender, no seio de um grupo que começa a ser uma comunidade de afetos e interações, mesmo que em alguns momentos, conflituosas. 

Assim se reconhecem e se entrelaçam, descobrindo diferenças, semelhanças, afinidades, encantos e alegrias.E tristezas. E amuos. Gostam-se, mas esgrimam vezes sem conta o seu poder, a sua emoção, a sua identidade. Querem-se únicos e exigem toda a atenção do mundo. São muitos e são pequenos. 

E eu, com muitos anos de profissão, fico espantada, ainda que talvez não devesse. Um pouco à nora, vou procurando construir lugares de satisfação, lutando contra o desconforto de me sentir pouco gente para tanto mundo(s). Precisava de ser mais pessoa, maior até, com um colo grande que acolhesse mais meninos. Porque alguns precisam muito de sossego, uma brisa no rosto e mil braços de cuidados e amparos. Para depois, ainda que devagarinho, se fossem libertando dos fios que lhes prendem a serenidade e a alegria. 

Assim estou. A pensar cada dia na melhor maneira de proporcionar um tempo e um espaço de bem estar. Assim estou, às vezes otimista e persistente, outras vezes confusa e impaciente. Sei que o meu tempo não é o deles e sei que me tenho que ajeitar ao seu mundo. Com segurança, afetividade e autoridade. Ora isto é tudo menos fácil, no lugar onde estou. Serei capaz?     

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