Ando com muitos meninos e meninas dentro de mim. Cheia dos seus risos, choros, abraços, zangas, palavras, silêncios. Emersa das suas obras e feitos, das suas conquistas e recuos, num movimento permanente de serem gente todos os dias. Em conjunto e cada um à sua maneira, o que implica sucessivas negociações, trocas de ideias, consensos, discordâncias. E assim ando, contente em certos dias, desconfortável, noutros, à procura da melhor parte de mim, vigiando a minha identidade, numa escola que há muito tempo que é escola. Chegada de novo, apenas estou eu e mais 19 meninos e meninas. Todos os outros já lá andavam, restantes crianças e adultos. Ando cheia deles e estupefacta com o mundo, a vida e a infância, que nunca pode ser conjugada no singular. Infâncias, será mais apropriado. Quando as são.
E estranho a cor do portão, a chave que não roda, os locais que não sei, as pedras da terra do chão, o toque da campainha, as entradas e as saídas. Estranho porque não conheço e vou conhecendo e estranho. São sempre assim os primeiros olhares e seria bom que os segundos e terceiros pudessem ser diferentes. Menos estranhos e mais amigos. Calorosos e enlaçados. Precisamos todos de nos sentirmos em "casa", quer dizer, de bem connosco e com os outros, pacificados e serenos, de pantufas calçadas, como sugeriram um dia, numa outra escola, umas quantas famílias para mostrarem o quanto se sentiam bem nesse espaço. Imagem interessante para revelar um ambiente acolhedor para todos. De resto, sabemos todos, que as escolas são as escolas e as casas são as casas. E é bom que sejam. Com caminhos amplos de relação franca e aberta entre elas, mas espaços diferenciados.
É por isso que sei que ando cheia de meninos e meninas mas que preciso de me libertar um pouco desse açambarcamento. Porque é disto que se trata. Para além das horas com eles, na sala, o pensamento sempre ocupado com as suas vidas, que agora se tornam "matéria" incontornável, largada ali no meio da sala e nós a ter que lhe pegar, sem saber que fio da meada reter na mão para apoiar um desenlace feliz.
E são tantas as meadas e tantas as infâncias, nesta escola de há muito tempo, que preciso de ficar menos cheia de meninos e meninas para construir um olhar mais liberto e novo, confiante e poderoso.
E depois então, já mais distanciada e serena, voltar a olhar de perto, com a distância emocional justa, que parece ser condição para uma relação pedagógica mais promissora da autonomia e desenvolvimento dos meninos e meninas. Só assim me poderei recolocar no lugar certo e redimensionar de novo a minha pessoa e as infâncias que à minha volta por mim reclamam cada dia.
E estranho a cor do portão, a chave que não roda, os locais que não sei, as pedras da terra do chão, o toque da campainha, as entradas e as saídas. Estranho porque não conheço e vou conhecendo e estranho. São sempre assim os primeiros olhares e seria bom que os segundos e terceiros pudessem ser diferentes. Menos estranhos e mais amigos. Calorosos e enlaçados. Precisamos todos de nos sentirmos em "casa", quer dizer, de bem connosco e com os outros, pacificados e serenos, de pantufas calçadas, como sugeriram um dia, numa outra escola, umas quantas famílias para mostrarem o quanto se sentiam bem nesse espaço. Imagem interessante para revelar um ambiente acolhedor para todos. De resto, sabemos todos, que as escolas são as escolas e as casas são as casas. E é bom que sejam. Com caminhos amplos de relação franca e aberta entre elas, mas espaços diferenciados.
É por isso que sei que ando cheia de meninos e meninas mas que preciso de me libertar um pouco desse açambarcamento. Porque é disto que se trata. Para além das horas com eles, na sala, o pensamento sempre ocupado com as suas vidas, que agora se tornam "matéria" incontornável, largada ali no meio da sala e nós a ter que lhe pegar, sem saber que fio da meada reter na mão para apoiar um desenlace feliz.
E são tantas as meadas e tantas as infâncias, nesta escola de há muito tempo, que preciso de ficar menos cheia de meninos e meninas para construir um olhar mais liberto e novo, confiante e poderoso.
E depois então, já mais distanciada e serena, voltar a olhar de perto, com a distância emocional justa, que parece ser condição para uma relação pedagógica mais promissora da autonomia e desenvolvimento dos meninos e meninas. Só assim me poderei recolocar no lugar certo e redimensionar de novo a minha pessoa e as infâncias que à minha volta por mim reclamam cada dia.
Olá Manela
ResponderEliminarjá há algum tempo que sigo o teu blog, mas gosto de o ler e manter-me em silêncio...
Hoje achei que devia escrever para te relembrar aquilo que me disseste tantas vezes... os sítios bons, acolhedores e harmoniosos somos nós que os fazemos e tu com a tua energia a tua vontade e principamente a tua experiência e sabedoria sabes construir a melhor "casa de goluseimas" que alguma vez existiu e no meio da floresta mais amarga (para bom entendedor meia palavra basta)!!!!
Os teus meninos são os mais sortudos do mundo por te ter a ti (quem me dera que algum dia passe uma Manela na vidada minha Maria Inês) e tu és a educadora mais sortuda do mundo porque todos os teus alunos estão abertos às partilhas que tens para fazer com eles e a receberem todo o teu carinho e amor... Um ótimo ano cheio de coisas boas, muito boas!
Beijinhos Tânia
Olá, Tânia. É bom saber que me lês e pensas o que escreveste. Não tenho tanta certeza assim do que dizes, pelo menos por agora. Mas sei que tenho a persistência toda e o amor certo que vai nascendo entre nós, os da sala. Depois também sei que "só amor não basta" e por isso quero manter-me lúcida e corajosa. Por enquanto a integração nesta nova realidade é difícil e vou tentando dar o meu melhor! apenas não sei se é com a qualidade que tu dizes. Mas vamos vivendo um dia de cada vez. Obrigada por acreditares em mim
ResponderEliminarabraço grande
Manela