Hoje o meu irmão faz anos. Quando eu nasci acho que me esperou ansioso ao colo do meu avô, a perguntar vezes sem conta quando chegava o bebé. Desse tempo da primeira infância, não me lembro dele, apenas de algumas histórias que a nossa mãe contava e que eram repetidos por outros elementos da família. Quando um dia saiu de casa e rumou à casa da avó materna, uma distância considerável e ele veloz, sem que o apanhassem; quando, sem saber bem como, ateou de labaredas o cabanal, cheio de palha seca para os animais, na eira dos nossos avós paternos e depois foi um susto; quando dormia dez horas seguidas em bebé, o que originava muitas comparações quando eu nasci, cinco anos depois e apenas dormia meia hora. No nosso clã familiar, o meu irmão era um menino doce, lindo e querido por todos, porque era simpático, atento, discreto e bonzinho. E bonito. Mantém ainda hoje alguns destes traços.
Sendo mais velho, o meu irmão foi desde muito cedo o meu herói e a minha referência. O que não me impediu de ser mestra dele em algumas coisas importantes, que fazíamos por troca: eu ensinava-o a dançar e ele lia-me francês, quando ainda andava na primária. E assim era. Na nossa casa pequena, junto à secretária do meu pai, eu ria-me com os pés dele que eram de chumbo e não acompanhavam o ritmo da musica e ele pronunciava as palavras com uma sonoridade que me encantava e mostrava-me os monumentos de Paris. Sentia-me absolutamente estrangeira e crescida. Na adolescência, ofereceu-me um diário branco, com uma chave, certo que guardar segredos era um investimento fundamental para um crescimento mais intimo e protegido. O meu irmão sempre me protegeu e eu a ele.
Sem dinheiro para lhe comprar prendas, ajudei-o na colagem das fotografias dos alunos, quando começou a dar aulas. E quando era preciso regar a horta e ele morria de sono de manhã. Deixava-o estar e adiantava-me na tarefa. Como já disse sempre fui uma rapariga de dormir pouco. Também vigiava alguns dos seus horários e obrigações e em alguns dias acordava-o para ele ir fazer, por exemplo, o exame. Aquele, o de matemática, que quase ia chegando atrasado. E acompanhava o seu atletismo e as suas vitórias. Ficava orgulhosa por tanto talento. Era o meu irmão.
Que fazia comigo o presépio no natal, que tinha livros de politica que eu lia, que tinha amigos que gostavam de mim, que era meigo, justo e bom. E absolutamente confiável. E honesto. A nossa mãe adorava-o e comigo fazia longas considerações sobre a sua vida. A publica, que o ausentava de si e ela, entre o orgulhosa e o moída de saudades. Do seu menino. A nossa mãe quando olhava para o meu irmão, os olhos sorriam de contentes e o coração dela melhorava da solidão.
Hoje somos dois adultos, mas acho que continuamos com a mesma proteção e amor. Às vezes eu gostava de o ter mais presente nos meus dias, mas o meu irmão é uma pessoa ocupada. Mas eu sei e sinto que esteja ele onde estiver, está sempre comigo. E eu com ele. São muitos anos de amor, apoio e confidências Agora parece que já não preciso de o ensinar a dançar e também já não tem exames de matemática para fazer. Mas em todas as suas provas de fundo, estarei sempre a vê-lo, atenta e vigilante, ainda que discreta. Eu sei e o meu irmão sabe que há muitas outras coisas que nos fizeram ser unha e carne. São nossas e são segredo.
Parabéns, mano!
Lindo e sentido o seu texto minha querida. Não a conheço mas as suas palavras são doces e decididas. Desejo-vos a continuação desse grande amor fraterno e dessa admiração que decerto será mútua. Lina Dias
ResponderEliminarMerecem-se mutuamente. Só podia ser... Parabéns e graças por ele e por si. O melhor do mundo para ambos, sempre.
ResponderEliminarLindo Manuela!
ResponderEliminarNão se podia esperar outra coisa de si, carinho pelo seu irmão e pelos que a rodeiam. Gostei deste regresso à infância duma forma muito subtil!
Beijinhos
Lindo, sim senhora. Reconheço um pouco desse seu irmão. Muita saúde para ambos para viverem esse a amor por muitos anos
ResponderEliminarLindo !!! Emocionante .!!! Pessoas especiais !!!
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