segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Paraíso

Fim de tarde sereno. 

O cansaço prende o corpo e a alma requer libelinhas em lagos de nenúfares, um chá quente em cima da mesa, dez dedos de conversa no café junto ao mar. Deixar o tempo correr por breves instantes, apenas o necessário para retomar a cadência do bater do coração em dias felizes. 

Se fosse possível, poderias vir para acertarmos algumas confidências que deixámos a meio e são o fermento do pão que alimentou os sonhos que sonhámos. Mas não virás. No sitio onde estás, as raparigas andam contentes a cuidar da terra e dos filhos, as cigarras cantam ao final da tarde e o sol despede-se todos os dias com uma cor forte e convidativa. 

Dá vontade de aí ficar, eu sei, os dias anunciam-se inteiros e sagrados, templos abertos para celebrar a vida, os amantes vivem em superfícies de azul, com garantia de amor eterno. 
As crianças correm felizes por florestas verdes e crescem desafogadamente, longe de quartéis e casas fechadas à brancura do tempo. Consigo vê-las e também tenho saudades. 

Por isso sei que não virás e apesar da tristeza, juro que compreendo. Como regressar de um tempo limpo, um calor morno e um céu aberto? 


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