Outubro chegou. Já não tenho a alegria de receber um grupo de crianças na sala e com elas partir à descoberta da vida e do mundo. Como gostava desses outubros, embrulhados em folhas e bocados de sol, cheios de surpresas e revelações! Apostávamos forte em nos conhecer, num clima de liberdade e partilha, tentando que todos(as) fizessem o seu lugar e pertença. Tínhamos colo, beijos, mãos a limpar lágrimas, que às vezes os corações ficavam aflitos, querendo aconchego e proteção. E depois, com o decorrer do mês, íamos aprendendo a ser e a fazer em comunidade. Tenho saudades, fico com nostalgia.
Dizia-se, quando era pequena, de mulheres que trabalhavam em casa de outros. Andar aos dias era fazer de tudo um pouco em casa alheia, numa condição de gente de fora. Desse tempo guardo a estranheza da expressão, a fragilidade dos vínculos e do contínuo vaivém. Quando mulher me tornei, resolvi essa estranheza dentro de mim. Compreendi que na vida andamos todos aos dias, ensaiando entradas e saídas, agarrando por dentro e por fora aquilo que podemos, sabemos e sonhamos.