Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem;
cada um como é.
Ambos existem;
cada um como é.
Dizia-se, quando era pequena, de mulheres que trabalhavam em casa de outros. Andar aos dias era fazer de tudo um pouco em casa alheia, numa condição de gente de fora. Desse tempo guardo a estranheza da expressão, a fragilidade dos vínculos e do contínuo vaivém. Quando mulher me tornei, resolvi essa estranheza dentro de mim. Compreendi que na vida andamos todos aos dias, ensaiando entradas e saídas, agarrando por dentro e por fora aquilo que podemos, sabemos e sonhamos.
Agora é tempo de renovar a esperança e acreditar em todas as promessas. Porque quando um bebé nasce, uma nova pessoa se projeta no mundo e podemos de novo esperar e acreditar. Porque os homens e as mulheres são capazes do melhor e do pior na sua relação com a vida. Agarremo-nos ao melhor como lema e prática de ser-se gente. Sabes como é? É cresceres e poderes seres ativo, critico, inovador, atento, poderoso, solidário, livre...e amoroso e feliz e doce. Muita coisa? Não, não será, porque tens já como marca de nascença as condições para te sentires um menino e uma pessoa de corpo inteiro, o que quer dizer, seguro e sensível perante ti próprio, os outros e os acontecimentos que possas viver e nos quais irás certamente, participar.
Regresso devagar ao teu
E depois? Depois, durante muitos dias, a Teresinha desenhou muitas casas todas iguais. Repetia as formas e as cores, em silêncio e mostrava aos meninos. Durante esse tempo, de repetição, como jovem educadora, tive muito medo de ter, com o meu gesto, inibido e condicionado a Teresinha, na sua descoberta de fazer uma casa. Ou qualquer outra coisa do seu agrado. Mas sabia, ainda que intuitivamente, que lhe tinha possibilitado o inicio de uma relação de segurança com o papel e o lápis. Via-se, ainda que tudo fosse sempre igual. Restou-me esperar. E acreditar que a confiança da Teresinha crescesse ao ponto de abandonar a casa e partir para outros lugares, formas, cores, traços e rabiscos.
É outono, desprende-te de mim.
Porque o pior destas palavras que nos dizem às vezes, em alguns dias da nossa vida e se entranham no nosso corpo, é o seu impossível reconto e partilha, restando-nos apenas deixar passar o tempo sobre elas, como uma nuvem de pó, que ao poisar deixará pouco percetivel a sua grafia e o seu significado. E aí talvez possamos de novo começar a restabelecer a cadência da respiração, parar o caudal das lágrimas, tirar do corpo o peso das palavras que nos foram ditas. Até um dia.