quinta-feira, 5 de junho de 2014

Já?

Quase no fim da semana e quase no fim do ano. Letivo, pois, porque o outro só chega em dezembro, carregado de frio e luzes de natal. Não estamos ainda no inverno.
Por estes dias, de primavera a caminhar para o verão, o cansaço espreita a toda a hora, de manhã já nos cerca ligeiro, mas a fazer notar-se, parece que não houve noite para o espantar e ele ficou colado a nós,  fiel e teimoso, à espera das férias que ainda tardam a chegar. É um cansaço poderoso, obriga-nos a suspiros e pensamentos constantes, uma espécie de instrospeção, ainda que em pequenas doses, porque as crianças nos rodeiam e precisam de nós e é tudo intenso e quente e em turbilhão. Nunca foi de outra forma.

Estamos no final do ano e invade-me um sentimento de estar ainda quase no início. Não é explicável, nem razoável, sei que é junho, mas persegue-me um não sei quê de desconfortável, como se ainda tivesse quase tudo para fazer com os meninos e as meninas.
Ponho-me a pensar em quantas propostas de trabalho deixei cair, o que ficou por completar, o tempo utilizado a compor choros e lamentos, feridas de dedos e beijos e pensos, mãos agarradas à bata e às pernas, empurrões para ter colo, corridas na sala em disputa de brinquedos e desenhos.

Olho para a sala e acho-a bonita. Apenas agora. Alguma estética num espaço húmido, a pedagogia a brigar com a falta de condições. Olho para a sala e vejo os nossos nomes em barro, um pano pintado pelos meninos com os direitos das crianças, anilinas com imagens de crianças, desenhos de uma história, histórias construidas e ilustradas, textos sobre as crianças (o que os meninos e as meninas sabem e sentem...), fotos de algumas familias contadoras de histórias, os nomes das maes escritas pelos meninos...e pinturas, e desenhos e recorte...

Acho bonito agora, apenas agora, mas não chega para aliviar o sentimento de desconforto. Qualquer coisa que não esteve bem, uma voz fina a dizer-me isso, ainda que muito discreta e leve, mas presente.É uma espécie de pano de fundo, que incomoda, ainda que não alarmante, mas presente. É como se ainda fosse janeiro e precisássemos do resto do tempo até ao final do ano. 
Tento situar-me no contexto e racionalizar. Raciocinar. Pensar sobre o assunto. E deter-me no porquê de ser final do ano e eu a querer que seja o início.

Eu sei, eu sei...queria começar de novo, com as crianças e a equipa. E vencer aquilo que foram as armadilhas de uma espécie de socialização profissional, ou dizendo de outro modo, as rasteirinhas da prática... aquelas que nos engolem sem que saibamos como. E nos fazem ser apenas mais um educadora entre tantas outras. Sem garra e sem singularidade.

É assim que estou. Quando me distanciar um pouco mais, espero ter lucidez suficiente para vislumbrar e avaliar o que foi um trajeto de um ano letivo.
Que passou num ápice, sem ter dado verdadeiramente conta do tempo. É uma verdade e uma constatação, neste ano o tempo não foi um aliado.

    

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