sábado, 28 de junho de 2014

E se os deitasse fora?

Sábado, dia de escrita, alguma preguiça e arrumação de ideias. E da casa, tarefa um pouco mais fácil que a anterior. Porque arrumar a cabeça implica arrumar o coração, esse músculo imparável que às vezes (muitas vezes?) se mói com a vida  e nunca fica calado. E quando queremos arrumar o coração, nem sempre temos as gavetas disponiveis e os utensilios necessários para fazer face à tarefa, como quando arrumamos a casa. Arrumar a casa é muito mais fácil e torna-se até um momento de relaxamento e distração. Arrumar o coração e a cabeça já exige mais esforço e parece tarefa nunca totalmente cumprida.

Por hoje a casa já levou um bom avanço, o coração nem por isso. Nem a cabeça. Cheia de coisas, algumas um pouco tolas, não precisavam de se misturar assim disfarçadas com as imagens do jantar de ontem de fim da formação, que um grupo de professores se disponibilizou a fazer, apesar do fim do ano e do cansaço. Foi um convivio interessante e bem disposto entre formandas e formadores - estes atores - no bar de um teatro, que foi o nosso palco durante 25 horas. Ainda bem que resisti ao cansaço e não desisti. Aprendi, relacionei-me e pensei para além da escola, ainda que com ela sempre presente. Assunto bom e assunto arrumado, sem querer dizer esquecido, até porque ainda falta fazer o relatório e num futuro próximo canalizar as aprendizagens para a prática pedagógica.  Mas por agora ficámos assim. 

O coração e a cabeça é que não. Decidiram, sem me consultarem, arrastar outras coisas para este sábado, tornando-se um pouco incómodos. E se os deitasse fora? A sério, bem que precisava, cansam-me, deixam-me um pouco estonteada, feita barata tonta, a cirandar para cá e para lá, a esquecer-me onde ponho as coisas, a repetir gestos, a parar para espreitar o verde das árvores. 

Por isso vim escrever, há quem diga que isso organiza os pensamentos e a emoção. Talvez.  Para isso temos que enunciar as palavras certas que digam o que sentimos e experimentamos. Depois fazê-las deslizar  direitinhas ao longo das linhas, umas ligadas às outras, para que descansem e nos libertem. Acho que é assim. 

Mas hoje não sei fazer isso, porque o abecedário é limitado para o que a cabeça e o coração ditam. Seria necessário descobrir outras letras, capazes de traduzir a vagareza em que me encontro, a incomodidade - ainda que pequena -  a lenta, mas persistente, invasão do dia com memórias, cheiros e sons mal definidos, atrapalhados e  nada razoáveis, para um dia de sábado, que se quer descansado e ligeiro.
Volto para a minha tarefa mais fácil, arrumar a casa.

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