O mar...
Azul e cinzento, a resmungar das suas dores, bate na areia e desmaia, como diz a cantiga da minha terra. É imenso, eterno e oferece o sentido da liberdade. E aviva a memória da infância.
Em menina, íamos vê-lo em dias de festa ou ao domingo, cumprido o dever da missa e o almoço melhorado. O mar enchia-se de gente, roupas escuras, lenços na cabeça, as mulheres sentadas na areia a olhar pelas crianças que iam e corriam e mandavam areia para o ar. Não havia fatos de banho, talvez um aqui e outro acolá, a pintalgar a tradição de uns cheiros de cor e mudança. Olhos curiosos, bocas surdamente caladas, a criticar o despudor atrevido naquele tempo. Mas não chegava para abafar a alegria do mar e o descanso do dia do senhor. No mar.
Em menina, íamos vê-lo em dias de festa ou ao domingo, cumprido o dever da missa e o almoço melhorado. O mar enchia-se de gente, roupas escuras, lenços na cabeça, as mulheres sentadas na areia a olhar pelas crianças que iam e corriam e mandavam areia para o ar. Não havia fatos de banho, talvez um aqui e outro acolá, a pintalgar a tradição de uns cheiros de cor e mudança. Olhos curiosos, bocas surdamente caladas, a criticar o despudor atrevido naquele tempo. Mas não chegava para abafar a alegria do mar e o descanso do dia do senhor. No mar.
Muitas vezes o vento, quase sempre o vento, a visitar as ondas e a animar-lhes o vai e vem, a abraçar com força os que iam até à água molhar os pés. Molhavam-se os pés como se tomássemos banho, a água fria a fazer espuma, as saias levantadas pela rebentação mais forte, a marca dos pés na areia, grossa, cheia de pedras e conchas e bolhas do deslizar da água para cá e para lá. As vozes altas, misturadas umas nas outras, risos e pão com queijo para a merenda. Às vezes, no dia da festa do mar, pasteis de bacalhau e arroz. E broa. E aletria no fim. Com canela.
À tardinha, com o sol rente à linha do horizonte, a corrida até aos barcos e os bois a puxar a rede. Petinga do nosso mar, carapau e sardinha, os pescadores a remoer a sorte da faina, as mulheres a comporem as canastras e as caixas para vender.
E a criançada feliz, os peixes a saltar, o brilho das escamas e os olhos dos bois, cansados de tanto puxar. Se desse, comprava-se o peixe, arrumava-se a trouxa e toca a voltar para casa, o dia de domingo a terminar. Um descanso bom a instalar-se no corpo, tudo certo na rotina da nossa vida, um dia mais, cumprido com o descanso que lhe era devido.
E a criançada feliz, os peixes a saltar, o brilho das escamas e os olhos dos bois, cansados de tanto puxar. Se desse, comprava-se o peixe, arrumava-se a trouxa e toca a voltar para casa, o dia de domingo a terminar. Um descanso bom a instalar-se no corpo, tudo certo na rotina da nossa vida, um dia mais, cumprido com o descanso que lhe era devido.
Hoje, lembrei-me de tudo isto, à mistura com o cheiro da maresia, os sons de fundo do mar, as nuvens no céu, a segurança de uma paisagem decorada e amada, porque presente e revisitada regularmente.
Ao domingo, dia do senhor e do descanso.
Ao domingo, dia do senhor e do descanso.
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