sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Dia dos namorados

É dia dos namorados e tu és o meu. Nunca ligámos muito a esta data, marcada por outros, escolhemos o nosso dia e fomos fazendo o namoro à medida da nossa vida e dos nossos encantos. Com rituais, sim, já comemorámos os 25 anos de vida conjunta, foi uma noite bonita, flores e arroz para os noivos, fotografias e poemas. Vinho e pão sobre a mesa. Gargalhadas e prendas. A casa cheia de amigos, foi sempre assim. 

Quando nos conhecemos já éramos pessoas feitas, um homem e uma mulher que vinham de longe, de muito longe, o que eu andei para aqui chegar, cheios das mesmas lutas e dos mesmos sonhos. A utopia morava em nós e foi um seio para nos juntar. O trabalho associativo, a intervenção cívica, estudar e ler, analisar e debater. Encontrámos-nos como amigos, descobrimos depois o amor, aconchegámos-nos no quente dos nosso corpos, ainda jovens, mas já maduros. Tínhamos uns medos secretos, coisas de antigamente, uns corações desconfiados por dores antigas, nada capaz de fazer sombra ao desejo de futuro, soubemos depois com o decorrer do tempo. Tu mais calmo e recatado, eu mais inquieta e espontânea. 

E do tempo decorrido, guardo os nossos namoros com ternura, volvidos que são tantos anos de atravessar dias e meses de calendários anuais. Uns a seguir aos outros. Dos mimos que me davas, certeiros e envolventes, conhecedor e sensível que eras da minha pessoa e da minha liberdade: livros, perfumes, abraços e paciência. E respeito. Por quem era e ao que vinha, sem beliscar as minhas fraquezas e acicatar os meus terrores. Ali estavas, ali ficavas, a apreciar os meus voos de gaivota rebelde, sentado na areia a incentivar as minhas idas e a acolher os meus regressos. Com amor. E eu pude, sem medo, fazer voos a pique para sentir a macieza das nuvens e o frio gelado das noites de solidão. Contigo, aprendi e saboreei o conforto de ter um porto seguro, com estacas fortes e laço largo, prender sem amarrar, amar sem aprisionar. Foi sempre um ponto de honra da nossa vida, um principio e uma realidade.

Bem sei que nem tudo foram rosas. Mas sei que os espinhos não chegaram para fazer sangrar o amor e arrefecer o calor do afeto. Do compromisso, da lealdade, do envolvimento, do prazer e da alegria. Mesmo em dias de muitas lágrimas. E houve. 

E aqui chegámos nós, hoje, ao dia dos namorados e tu és o meu. Olho para ti e para mim, para os nossos filhos e fico impressionada, o que nós andámos para aqui chegar. Obrigada por seres quem és e por um dia teres decidido e aceite partilhar a vida comigo mesmo sabendo e dizendo Tu não és nada fácil. Pois não, eu sei. Mas tu não me ficas atrás, ainda que de outra forma. Nós sabemos. 

Já me deste um perfume e eu dou-te este texto. Quando publicar o meu livro, que é sonho antigo e talvez nunca venha a ser realidade, vou dedicá-lo a ti. 
No entretanto, meu namorado, guarda cada palavra que te escrevo, porque a vida já vai longa e o futuro tem fim.    


3 comentários: