De novo a chuva, desta vez em tempo de (quase) verão.
Uma nostalgia doce, a terra molhada de mansinho, um frio que não chega a gelar, um vento ameno nas árvores, as gotas da chuva a salpicarem os vidros da janela.
E nós com o rosto colado, a olhar o tempo e os dias, a trautear canções, em surdina, a arquitetar palavras e projetos, a remoer sonhos.
Perto e longe de nós e de outros, entre o passado e o futuro, para retemperar o presente.
Sem inspiração que chegue e que nos valha, pedimos estas palavras - tão certeiras e belas - emprestadas.
Plano
Trabalho o poema sobre uma hipótese: o amor
o pudessemos beber de um trago. No fundo,
como o vinho turvo, deixa um gosto amargo na
boca. Pergunto onde está a transparência do
vidro, a pureza do liquido inicial, a energia
de quem procura esvaziar a garrafa; e a resposta
são estes cacos que nos cortam as mãos, a mesa
da alma suja de restos, palavras espalhadas
num cansaço de sentidos. Volto, então, à primeira
hipótese. O amor. Mas sem o gastar de uma vez,
esperando que o tempo encha o copo até cima
para que o possa erguer à luz do teu corpo
e veja, através dele, o teu rosto inteiro
Nuno Judice in Poesia Reunida
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