Combinámos e lá fomos ver as provas de mestrado. Nós, a futura mestre, a filha, uma amiga, a mãe e muitos sacos com as obras para mostrar. Tudo embrulhado a preceito, porque as produções que se fazem com entusiasmo, talento, procura, risco, se querem cuidadas e bem acomodadas para que nada as danifique. Pelo lado de fora, bem entendido, porque do lado de dentro, como obra criada, eles perduram bem aconchegadas e seladas no coração, na memória, nas mãos, no tempo, no espaço onde tomaram forma, como expressão de vida de quem vida lhes deu. Foi isto que a Artista disse quando defendeu as suas mantas, um trabalho que denominou manta-vida, para a obtenção do grau de mestre em ilustração artística.

Depois das formalidades da apresentação da tese e da sua arguição por um professor doutor, um pouco seco e àspero na análise da obra, a artista defendeu-a, como coisa sua, amada e investida, suada e percorrida cem mil vezes pelas suas mãos e talento. Esteve guerreira, transparente, inteira e destemida. Sem rodeios nem meias palavras, falou de si, do processo criativo, da estética, do caminho encetado para chegar até ali. Utilizou palavras, ideias, lágrimas, riso e atenção. Disse que sim e que não e talvez, fazendo voos rasantes de ave liberta sobre quem é, o que foi e o que espera ainda ser.
E eu, que não a conheço há muito tempo, fiquei a olhar para a sua roupa azul, o colar de tecido vermelho, os olhos castanhos, a inteireza da sua apresentação e comovi-me. É sempre surpreendente e reconfortante encontrarmos gente com garra e talento para ilustrar a vida, as convições e o futuro. Sem medo.
Parabéns à artista e à sua obra!
Simples/ bonito
ResponderEliminar