Uma tarde de sol luminosa, um céu azul a perder de vista, umas árvores floridas a pintar a paisagem. Tudo (quase) perfeito.
E nós inquietos com a vida, a tentar dar-lhe sentido. Alinhamos mais uma vez as razões para o nosso descontentamento e não encontramos nada de significativo a assinalar, que não esteja desde há muito na gaveta dos "impossíveis". São coisas perdidas, uma espécie de recortes, fatias de tempo, em que a vida não correu de feição e por isso, ficaram penduradas na janela do coração que de vez em quando se abre e deixa antever a saudade.
Uma imprudência, uma distração, não mantivemos a nossa vigilância discreta e lá de dentro saem sons e cheiros, princípios e fins de palavras, imagens imprecisas, coisas inúteis, mas ainda assim, poderosas, quando em rota livre, para tomar conta da nossa alegria em dias de sol e claridade como este, o que agora acaba. E pronto, contrariados mas racionais, lá vamos nós fechar o que não é para abrir. Fazemos todos os gestos necessários, alguma perícia acumulada facilita-nos a tarefa, arrumamos tudo onde estava.
E suspiramos de alivio. Ainda estamos a tempo de não desperdiçar o sol que inunda a paisagem. Claro, luminoso e intacto. Belo e convidativo. Tal qual o queremos, neste domingo. Para inaugurar a semana que aí vem, sem gavetas abertas e coisas inconvenientes.
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