segunda-feira, 13 de maio de 2013

Declaração

Aqui estamos nós. Tu a fazeres anos.
Olho para ti e vejo todo o tempo que já vivemos. A estrada ao longo dos dias, os atalhos e as pedras, as papoilas nos campos do Alentejo, o azul da ria, coisas que aprendemos a amar, porque pertença de um e de outro.  
Olho para trás e alcanço o inicio. Novos que éramos, todos os sonhos dentro de nós, combativos, inquietos, inconformados. Eu mais que tu. Tu mais que eu, quando foi necessário amaciar o medo em noites de vigília. Desta mistura, fomos fazendo uma casa, dois filhos, acolhemos os pais, enchemos o sótão de livros, fizemos mestrados e doutoramentos, tu lá eu aqui. Escrevemos postais e moldámos com paciência a solidão, numa espera amena de outros dias por vir. Acreditámos. E plantámos um jardim, comemorámos com amigos, dançámos até de madrugada. 

Desta jornada a dois e a quatro, nem sempre te dei guarida, nem sempre me deste também. Somos imperfeitos. Mas chamaste-me gaivota e entendeste o meu mar e a minha ocupação pela liberdade. E eu chamei-te colo e aninhei-me nele, nos dias em que as lágrimas me secaram a coragem.    

Olho para trás e vejo tanto tempo. Temos hoje rugas e cabelos brancos e aqui estamos. Quero continuar a acolher o teu ar cansado, nos dias em que não acertas com a vida. Em que olhas à tua volta e entristeces, tu, tão pouco dado a tristezas. Tu, pessoa ética, integra, fiel aos teus princípios e convicções, honesto e dedicado.Talvez seja por isso.

Olho para trás. Entre o tempo que passou e aquele que há-de vir, quero inaugurar dias mais limpos de imposições, para podermos olhar as giestas do Alentejo. E voltarmos lá, todas as primavera. Tu mereces. E eu também.
Parabéns.   

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