Podíamos vê-las sentadas à volta de uma mesa ou estendidas no chão, a trocar gestos e falas secretas, em voz baixa, que as palavras ditas aos quatro ventos, sem recato e pudor, banalizam a vida e espalham leviandades. Coisas menos sérias e comuns, dejá vu, que se escrevem nos muros da cidade ou se postam nas redes sociais, clichés que andam de boca em boca, sem pertença ou identidade. Ao olhá-las, gestos leves e subtis, cabelos tombados e olhos expectantes, atenção focada em quem detinha a palavra, sabia-se que não era isso que as ocupava.
Desejavam, isso sim, à volta da mesa, iniciar a produção de uma obra de autor, coisa única e pessoal, que pudessem assinar, torná-la sua como descoberta, razão de ser e saber, coisa definitiva. Por isso se empenhavam, numa procura mansa mas persistente, em reter e partilhar a indizível natureza do amor e da amizade. Uma missão impossível, se escrita em livro ficaria um texto cheio de linhas interrompidas, páginas vazias, bocados cortados e recomeços constantes, como se nunca se encontrasse a forma perfeita ou iluminada de a dizer.

Quem as ouvia, afirmava ser difícil entender o que diziam, porque falavam de mansinho, quase em segredo. Mas juravam escutar, vezes sem conta, algumas palavras... mãe, pai, filho, amor, amigo, abraço, companheiro, medo, pena, mulher, choro, riso, tempo, liberdade, pão, fúria, coração.
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