Não falarei dos espinhos que se cravam nas mãos, sem me lembrar do perfume das rosas bravas que inundam a minha memória dos dias da primavera que surgem depois do inverno. Nem tão pouco ousarei queixar-me do frio que se entranha na pele, nas manhas de nevoeiro ou da chuva que irrompe pelos caminhos e faz transbordar o leito dos rios.
Afastar-me-ei de todas as fúrias dos mares, cerrarei fileiras contra maus presságios, não voltarei atrás a certificar-me da justeza de uma decisão.
Ver-me-ão atenta e vigilante a todas as manifestações de alegria, risos e murmúrios de crianças a brincar, vozes de amigos em conversas amenas, mulheres inteiras a procurar o mundo, homens doces em sobressalto de duvidas.
De tudo tirarei um pouco para guardar e amealhar do lado esquerdo do peito, que de agora em diante, apenas escutará o sentido do tempo e das palavras que valham a pena.
Quero-me livre de todas as sobras inúteis de mim.
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