Deu-me um livro pequenino, uma espécie de bloco de apontamentos minúsculo, com uma fita bordada a fechá-lo, igual a outros que tem lá em casa, em cima das estantes, junto a postais, caixas redondas, pisa papéis italianos, panfletos de cinemas antigos ou museus, velas vermelhas, sinos, fotografias, castiçais, almofadas castanhas com gatos azuis, cortinas cremes, com renda, capas com textos, muitos livros, musica. Muita musica. Um lugar cheio de objetos bonitos, próprios, pessoais, com muitas memórias e outros mundos, que não apenas a rua e os arredores onde foi construída a casa onde vive.
Gosto de ficar por lá, beber o café e conversar, mas gosto sobretudo de olhar e confirmar um dia após o outro que este é um templo, um espaço para se ser, lugar de vida e recolhimento, inquietação e harmonia, liberdade e afeto. Um lugar com tempo. O de ontem, o de hoje, o de amanha. Um lugar com história inacabada, principio e meio. O fim não existe, virá num futuro muito longínquo.
Gosto de casas, sobretudo daquelas onde os objetos são escolhidos e pensados lentamente, a revelar a vida dos que nela moram, a impor uma ordem e uma estética, a traduzir um maneira de ser e estar. O interior das casas são cultura, afetos, ideias, gostos, sonhos. Também alguns desgostos, também algumas dúvidas, também algumas penas. Mostram e escondem. As casas falam uma linguagem muda e no entanto, absolutamente audível e explicita, quando com tempo e curiosidade, nos detemos na sua contemplação.
Porque há casas que são o prolongamento do corpo e do coração dos homens e das mulheres que nelas vivem. Ou viveram. Mesmo. Bonitas e interessantes, cheias de mensagens e recados. E avisos. Dizem por exemplo, aqui mora alguém que ama a poesia, as memórias, que é e já foi feliz, que correu mundo, apesar de pouco ter viajado, que gosta de arte, que preserva os afetos, que teve infância, que amou, que lutou, perdeu e ganhou...
A casa onde hoje estive e estou muitas vezes é assim. Um gosto para os olhos, uma lição de vida. Porque é de vida que falam os objetos que nela estão, numa dimensão longa e envolvente, ainda que a casa não seja grande e a sua arquitetura, absolutamente comum.
Mas se olharmos com olhos de ver, tudo cativa e prende, parece um nicho, um regaço, e contudo, estamos na casa e sentimo-nos na rua, rodeados de imagens de galerias, pedras da praia, estrelas do mar, folhas secas de cor purpura, peças de artesanato, uma camilha muito branca sobre a mesa.
Tudo colocado num lugar exato, que é aquele e não outro, porque tudo está em relação e complementaridade. A poesia da Sophia ao lado do Fernando Pessoa, mais acima Manuel Alegre, Joaquim Pessoa, Natália Correia, Virgílio Ferreira, Jorge de Sena. E outros, muitos outros. E musica, muita musica. Maria João Pires, José Afonso, Carminho, Bethoven.
Mas se olharmos com olhos de ver, tudo cativa e prende, parece um nicho, um regaço, e contudo, estamos na casa e sentimo-nos na rua, rodeados de imagens de galerias, pedras da praia, estrelas do mar, folhas secas de cor purpura, peças de artesanato, uma camilha muito branca sobre a mesa.
Tudo colocado num lugar exato, que é aquele e não outro, porque tudo está em relação e complementaridade. A poesia da Sophia ao lado do Fernando Pessoa, mais acima Manuel Alegre, Joaquim Pessoa, Natália Correia, Virgílio Ferreira, Jorge de Sena. E outros, muitos outros. E musica, muita musica. Maria João Pires, José Afonso, Carminho, Bethoven.
Eu não disse? Podemos-nos sentar na casa, colocar o CD do filme "Africa Minha" e viajar no mundo, com as palavras. Bem aconchegados numa almofada com um coração bordado. Posso beber mais um café?
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