Há mulheres que têm poesia dentro delas. Vemo-las deslizar em finais de tarde, no meio das acácias, sem deixarem vestígios de si, denunciadas apenas por algumas gotas de perfume, que se confundem com o cheiro fresco do amanhecer. Repetem estas viagens vezes sem conta, indiferentes à rotina do caminho e do desejo, porque as persegue um gosto estranho por uma vida eterna. Procuram, com teimosia inquieta, o sentido preciso da sua existência.

Esperam missivas de outros lugares, uma gruta embutida nas rochas, salpicos perdidos de uma cascata, o cantar de um rouxinol, o voo rasante de uma gaivota. Inquietam-se com o fulgor dos dias e das relações dos homens entre si, refugiando-se em pedaços de historias inventadas.
Criaram-se entre beijos e pedras do deserto e por isso sabem ler nas estrelas e nos corações aflitos. Traduzem, com elevada perícia, o sentido do amor e da rebeldia, em doses nem sempre consentidas.
São mulheres raras, nomeadas pela sua fragilidade, meia triste e no entanto, quase sempre inaugural. Reclamam, em dialetos sussurrados, outra ordem no mundo, o amor sem prazo de validade, a alegria como esteira no chão, a liberdade para tecer cravos à janela, em cidades justas. Recusam o medo e a prisão dos dias, servindo-se da poesia que as habita. Com isso se defendem e se escudam, aninhadas em palavras que são pão, vinho e abraços. Isso lhes chega para sustento. São mulheres raras, conheço algumas.
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