sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Pela noite dentro

Noite sem sono. 
Já todos dormem. Persisto na insónia, a mente ocupada, apesar de ser sexta-feira. Cai a chuva com força no telhado, está um frio forte de madrugada, um gelo que me cerca o corpo, apesar da manta nos joelhos. É uma manta tua, que usavas no inverno, a protestar das dores que sentias. Se estivesses cá, estarias a dormir no teu quarto, que agora está vazio da tua presença, mas ainda com vestígios e objetos que te pertenceram. São bonitos e são eternos. Como tu. 

Vou lá muitas vezes, é um quarto vivo, que foi teu e continua a ser ocupado, muitas vezes por amigos dos teus netos que dormem lá, em noites de saídas, quando já não dá para irem para casa. Gosto disso, assim damos-lhe serventia, transformando a tua ausência noutras vidas e acontecimentos. Como certeza desta corrente que não pára e nos liga a todos. Os que cá estão e os que já partiram. Como tu. 

A seguir seremos nós. E depois os mais novos, que entretanto irão envelhecer com o decorrer dos dias, meses e anos. Foi isso que pensei quando hoje entrei no quarto e vi alguns objetos que estão lá, porque foram teus e ficaram entre nós. Fiquei com saudade e com certezas. Que a vida é esta condição de chegada e de partida, ficando no meio tudo o que somos e construímos. Muito e pouco, tudo e nada.
   
Talvez pela chuva e pelo tempo que faz, esta ideia instalou-se em mim e entristeceu-me. Andei às voltas entre o jantar, algumas conversas e o olhar distraído para a televisão. A pensar que somos finitos. 

Em alguns dias e sobretudo noites, é motivo para insónia. 


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