terça-feira, 10 de dezembro de 2019

De que matéria somos feitos?

 De onde nos vem a luz que temos cá dentro e ilumina os cantos sombrios da vida? de onde nos chega a convicção e o encanto, a beleza e a alegria, a raiva e a cobardia? porque teimamos na vela acesa, como sinal para o caminho? porque rimos e choramos e ainda assim, continuamos, trémulos e prontos para o que amamos? de onde nos chega o amor pela liberdade, ultimo reduto da nossa verdade? de onde nos vem a rebeldia, a fé sem rumo na ousadia, o querer ir e apostar, o partir e procurar? porque nos mantemos de pé, firmes e capazes de muitos feitos, quando estamos, às vezes, desfeitos? porque queremos, acreditamos e vamos?

desenho da Sara -  JI da Trafria
De que matéria somos feitos, neste mundo dividido? os que discursam e os que fazem, os que insistem e os que desistem, os que escutam e os que falam? os que tudo têm e os que nada terão, os que adoçam a boca com broas de mel e os que suportam a fome e o fel?

De que matéria somos feitos, para aplaudir de pé vitórias breves, obedecer e anuir, esconder a voz e o porvir? O que nos leva a iludir  a nossa vidinha, rodeados de tanto ter, a consumir e a inventar o que ainda há para arrecadar? De que matéria, sonhos, convicções e enganos somos feitos?  

Neste natal, tantas perguntas, a inquietar o lado mítico da época. Por entre estrelas e luzes cintilantes, um estremecimento no corpo, uma alegria insatisfeita, uma ternura com medo. E ainda assim, o contentamento por tudo se repetir, mais uma vez. E ainda assim, a beleza do presépio, o cheiro do musgo da infância, a alegria de estar vivo, pensar, sentir e escutar. E ainda assim saber ouvir a aceitar as vozes de dentro, sem assombrar as de fora, feitas palavras, risos e abraços daqueles que amamos. 

Que seja natal, com e para lá da matéria de que somos feitos. 

1 comentário:

  1. É isso mesmo! O contentamento por tudo se repetir mais uma vez. Feliz Natal, naquilo que ele significa: a família, o amor, a partilha. Beijinho

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