sábado, 21 de dezembro de 2019

Sentir a falta...

Aqui estamos de novo e de novo me fazes falta. Este ano, ainda mais, estou deslaçada com este tempo, eu que aprendi a gostar tanto do natal. Perdi-lhe o encanto? Não, aumentaram as perguntas e as cismas, como dizias, quando te querias referir aos meus silêncios disfarçados.

E no entanto, queria sentir esse gosto bom do cheirinho a natal, uma espécie de alegria secreta e calorosa, salpicada de risos e afagos. Por isso, fazes-me falta. Não que fosses muito pronta na expressão dos afetos, a educação moldou-te em contenção e pudor, mas eras a minha mãe, de rosto doce e menineiro e por isso te queria aqui. Para me olhares com olhos de interrogação e anuir, contente, com as minhas decisões. E eu a ficar mais amparada nesta eterna necessidade de obter aprovação. Coisas de menina pequena que o tempo não apaga.
foto J.I. Trafaria

Queria-te aqui, neste natal, para ficar menos só, apesar da casa cheia. Queria ainda ser filha, e mesmo que não pudesses cortar-me o cabelo e deixar a franja curta ou dar o laço, a preceito, nos bibes de andar por casa, queria-te aqui para sentir que tudo está bem e certo e por isso, tudo é justo e promissor.  


Queria-te aqui por casa, para irmos comprar as couves e o bacalhau, medir-lhe a altura e discutir os preços, sacudir o sal e meter no saco e depois, cansadas, tomar um café com uma broa de mel. E regressar a casa, cirandar contigo, dispondo as velas e os pratos e sacudindo com jeito, as migalhas do pão com manteiga, que comíamos, satisfeitas, no intervalo destas lides. 

Queria-te aqui, para me ficares a ver, meia embevecida, a embrulhar os presentes e a alindar-lhes os contornos, com jeito, confirmando o meu gosto por pessoalizar cada um, com detalhe. E depois havíamos ainda e de novo, de discutir o trabalho que isto dá, tu a tentares convencer-me que talvez não fosse necessário, eu a saber que acreditavas, tal como eu, que é isso que faz toda a diferença nas dádivas que damos uns com os outros.

Vês porque te queria aqui neste natal? para o fazermos e vivermos na cumplicidade boa que este tempo construía em nós. De mãe para filha. 
De novo, no natal e sempre, fazes-me falta.


1 comentário:

  1. Aí Manuela, como eu queria o mesmo. Apesar da cada cheia nunca mais será o mesmo! E nos preparativos o conselho, com saber “faz assim que é melhor” nunca mais, ai, nunca mais....😢

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