Quase em férias. Restam ainda uns dias de trabalho, que parecem muitos e cansam ainda mais. Quase a chegar ao tempo de sentir o tempo a deslizar, sem pressa. Tempo para olhar para as coisas e sentir a sua beleza. A sua originalidade, o seu oficio no mundo.
Quase a chegar às férias, como se fosse um lugar, uma imensa casa soalheira, com alpendre e cestos com fruta. Como se fosse um rio, por entre montes, com o verde a perder de vista. Como se fosse uma rede para descansar, com um livro caído no chão e um sumo fresco. Como se fosse um jantar no meio do jardim, com risos de amigos e conversas mansas.
Quase a chegar às férias, para abandonar o corpo, deixá-lo entregue aos devaneios da preguiça, libertá-lo de amarras e muros, soltá-lo em liberdade, junto ao mar. Andar e saltar por entre as pedras molhadas e lisas, com a areia quente, a cintilar, em marés cheias.
Quase a chegar às férias, para sossegar a alma, ouvir os sons leves da alegria, procurar imagens de luz, renovar o prazer da escrita e da ousadia.
Procurar lugares e cores, vozes e abraços, flores e luz, tudo coisas belas. E leves, e cheias de ternura e salmos. Uma espécie de hino longo e largo, a expandir o mundo que trazemos misturado na pele e na emoção.
Quase a chegar às férias para aquecer o olhar e renovar o amor e a beleza. Porque (quase) tudo está em nós.
Como nos diz o poeta
Põe-se o Sol porque o seu movimento é relativo.
Derrama cores porque os meus olhos vêem.
Mas por que será belo o pôr do sol?
E belo, para quê?
Se acaso as coisas não são coisas em si mesmas,
mas só são coisas quando percebidas,
por que direi das coisas que são belas?
E belas, para quê?
Se acaso as coisas forem coisas em si mesmas
sem precisarem de ser coisas percebidas,
para quem serão belas essas coisas?
E belas, para quê?
Quase a chegar às férias, para sossegar a alma, ouvir os sons leves da alegria, procurar imagens de luz, renovar o prazer da escrita e da ousadia.
Procurar lugares e cores, vozes e abraços, flores e luz, tudo coisas belas. E leves, e cheias de ternura e salmos. Uma espécie de hino longo e largo, a expandir o mundo que trazemos misturado na pele e na emoção.
Quase a chegar às férias para aquecer o olhar e renovar o amor e a beleza. Porque (quase) tudo está em nós.
Como nos diz o poeta
As coisas belas,
as que deixam cicatrizes na memória dos homens,
por que motivos serão belas?
E belas, para quê?
as que deixam cicatrizes na memória dos homens,
por que motivos serão belas?
E belas, para quê?
Derrama cores porque os meus olhos vêem.
Mas por que será belo o pôr do sol?
E belo, para quê?
Se acaso as coisas não são coisas em si mesmas,
mas só são coisas quando percebidas,
por que direi das coisas que são belas?
E belas, para quê?
Se acaso as coisas forem coisas em si mesmas
sem precisarem de ser coisas percebidas,
para quem serão belas essas coisas?
E belas, para quê?
in Poesia Completa Antoónio Gedeão, Edições João
Sá da Costa, Lisboa
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