E então ela escreveu tenho que saber ficar com o coração limpo de mágoas e eu fiquei com a frase a dançar-me nos olhos, perplexa pela sua clareza e sentido. Andei com ela toda a tarde, embrulhada em perguntas, seguida de algumas respostas e muitos silêncios, enternecida pela sua audácia e franqueza para a resolução dos tempos próximos. ficar com o coração limpo de mágoas. É isso. Tem que ser isso.
Como se salda o que dói? como se aquietam injustiças e se revertem as condutas e os modos de ser? como se ultrapassam os laivos da pena de nós e se renovam as crenças? como do pouco, podemos fazer muito e do menos bem, o bem pleno? como podemos voltar à insustentável leveza do ser, limpos de fúria e zanga, acalentando o que somos e ainda queremos (e podemos) ser?
Como se faz isto à
séria e sem escapatórias de trazer por casa? aquelas coisas que somos tentados a fazer,
um pouco tolamente e por despeito, disfarçar e assobiar, isto não é nada comigo, isto já passa.
Fazer a fuga para a frente, (re)começar outros desafios, mudar de fuso
horário, mudar de direção, procurar o paraíso em livros de autoajuda, saiba como ser feliz, num ápice.
E num ápice, quase nada se faz. Num ápice, só receitas na Bimby, tarefas domésticas, sms, duches pela manha, recados e ligar o carro. De resto, na vida mais funda, a dos afetos e projetos, é preciso tempo, bom senso, resiliência, lonjura e confiança. É preciso não dar o corpo pela alma, descobrir o essencial e deitar fora todos os supérfluos acumulados. Aqueles que nos retiram a liberdade e a energia para (re)fazer a nossa vida, com arte(s) e sonhos.
É preciso ficar com o coração limpo de mágoas. E assim vai ser.
É preciso ficar com o coração limpo de mágoas. E assim vai ser.
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