sábado, 10 de dezembro de 2016

Para o bem e para o mal

Respirar, neste sábado. Respirar forte e profundamente.
O dia ontem não foi de feição, consumiu quase todo o oxigénio disponível, aquele que anda lado a lado com a emoção, as crenças e as perspetivas, a amizade e o amor. O oxigénio que nos constitui como gente e nos alimenta a alma e o tempo. O oxigénio que nos faz sermos quem somos, exatamente assim e não de outra forma. Para o bem e para o mal.

Bem, ontem, foi a possibilidade de discussão, as ideias acesas e brigadas, porque somos gente da briga, (Paulo Freire), gente a reclamar o direito a pensar e a sentir. O bem, ontem, foi esse espaço de diálogo, talvez um pouco atropelado, vozes por cima e ao lado, à procura da melhor forma de pensar a planificação e a avaliação na educação de infância. Uma conversa desmedida, porque longas são as conceções que herdámos, incutidas em anos de escola, um quadrado é um quadrado, um cão é um cão, as grelhas dão jeito e as listagens de indicadores também, mede-se e pronto, põe-se a cruz e fica tudo ali, os meninos fatiados e descritos assim, aprendem ou não aprendem, e mostram ou não as aprendizagens e as evidências.

Bom ontem, não foi dizer isto, porque isto não se disse, foi saber que era isto que escorria por entre as palavras que se partilhavam, e poder de alguma forma, desocultar o sentido do aprender com as crianças e avaliar também com elas, em processos reais de interação, poder partilhado, negociação e cooperação.

Mal ontem, foi a impaciência perante estes restos de escola que moram dentro de nós, como uma espécie de zona de conforto e que impedem a adesão convicta a outros princípios e outras causas, exigindo uma formação longa, refletida, confrontada com a prática e os olhares de outros que sobre ela pensaram. Mal ontem, foi não atualizar, em contexto de discussão, que Roma e Pavia não se fizeram num dia e que necessitamos de conversar longamente sobre esta matéria, trocando por miúdos, o que queremos da educação de infância como lugar de desenvolvimento e aprendizagem de grandes e pequenos, com inclusão, diversidade e cuidado a todos e entre todos. 

Mal, ontem, foi ter experimentado o espartilho da formação, a escassez de tempo, o incómodo de não saber como fazer para destituir do seu pedestal, uma conceção bancária da educação em favor da educação problematizadora (Paulo Freire) que pensa e se pensa e se recria em coletivo e cooperadamente. Na avaliação e em muitos outros aspetos. 

Mal ontem foi ter ficado cansada e meia desistente, com uma irritação evidente, pouco controlada, que se amenizou à noite e desapareceu, pela visão do amor e da amizade, feito gesto de cuidado, atenção e solidariedade para com aqueles amamos, os amigos que precisam. 
Bem, ontem, foi a noite ter terminado assim, salpicada com um pouco de sofrimento, mas cheia da certeza de que cuidamos uns dos outros e que assim é que deve ser. Na vida, entre amigos. E nas escolas? E nas escolas, sim, também e sobretudo. 
Assim somos, a respirar, todos os dias. Para o bem e para o mal? Para o bem.  

2 comentários:

  1. Mais uma vez, fantástica! Muito obrigado por ir dando ânimo através da escrita e do exemplo.

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  2. E obrigada por ler e comentar...e pois, vai-se fazendo como se pode...

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