domingo, 20 de julho de 2014

Comunicação

Vou fazer uma comunicação, hoje, aqui, depois do congresso terminar, ainda que já não haja publico para partilhar o tanto que aprendi, pensei e confirmei. Não fiz comunicação no congresso, não saberia como eleger o fundamental de um ano tão carregado de sentidos dificieis para o ato de ensinar e aprender. Não me propus, por medo, resumir em pouco tempo, o longo tempo de uma comunidade educativa que apenas agora começa a ter esteira e lugar para se entender e comunicar. Às vezes é preciso deixar de molho e a levedar o fermento da massa que há-de ser pão para toda a gente. Assim se espera. 

Vou fazer uma comunicação. Tenho que abordar, o que marca, o que define, o que impulsiona e liberta numa escola que não pode ser fábrica, prisão ou casa ao serviço da ideologia dominante. Aquela que nos manda obedecer, reproduzir, decorar, anuir, aceitar, condescender...em nome da ordem, da moral e dos bons costumes. Começo pela divulgação dos produtos culturais, confirmando que a escola é uma espaço de (re)construção de saberes, contextualizados na vida, história, cultura de crianças e adultos de uma comunidade, de um país, do mundo. Estava lá tudo isto, espalhado por corredores e escadas de madeira, cravos, tapeçaria, textos do 25 de abril, animais gigantes pintados por meninos e meninas artistas, estudos sobre pintores e recriação dos seus quadros, Miró, José de Guimarães, Paul Klee... livros de histórias e projetos, as formigas, o sistema solar, os bebés, os sons do corpo... muitos projetos, muita arte e muitos afetos, como condição para pensar, apreender e mudar o mundo, aquele que rodeia os meninos e meninas e outros, mais distantes, que sonham e têm o direito a conhecer, através de uma participação direta e efetiva. Como atores da sua própria aprendizagem. As produções, algumas muito belas, para mostar que aprender pode ser uma forma de expressão de cem linguagens e não apenas a oficial, a que emana do poder central e de compêndios e manuais pobres.    

Reforço escolar nas escolas,  ajudam alunos a driblarem reprovação Vou fazer uma comunicação. Agora detenho-me nas comunicações de muitos educadores e professores, que em resistência, partilham os seus percursos de trabalho com os alunos, mais pequenos e mais crescidos, o tamanho e a idade não são critérios de exclusão da pedagogia, o lema e a convicção é que todos podem e devem ser pertença de uma comunidade de aprendizagem. Muitos temas e muita paixão, seriedade e luta, em histórias de diários, lista de projetos, quero mostrar, contar e escrever, planos do dia, mapa de atividades, instrumentos reguladores da vida dos grupos, livros e projetos, contrastes, matemática e literacia, ciências e escrita. O curriculo permanentemente desocultado e tornado coisa conhecida, partilhada e negociada. Os processos dialógicos como a única forma possivel de se viver na escola, de ser-se aluno e professor. A negociação como condição de uma democracia participativa.

Vou fazer uma comunicação. Tenho agora que terminar,  já não tenho mais tempo nem mais engenho e arte, foi pouco o que partilhei sobre três dias de formação e divulgação de um movimento de professores atentos, implicados, mediadores dos processos de aprendizagem significativa, socialmente util e pessoalmente gratificante. Sem dificuldades? não, quase sempre em contra corrente, a criatividade e a liberdade, o trabalho negociado e discutido não se apresentam como dados naturais num quotidiano fortemente contaminado pelas regras do poder, do saber hierárquico, do individualismo, do sucesso apenas para alguns. Sem dificuldades? não, estes educadores e professores sabem da vigilância permanente que colocam no fazer pedagógico, para que as rasteiras da prática não os façam cair em tentação. Os professores sabem da força para estarem sempre alerta, atentos, a distração é a pior das armadilhas do quotidiano escolar. 

Termino esta comunicação. Sem imagens, powerpoints ou registos de falas dos atores da escola. Ficou lá tudo e está ainda tudo dentro de mim. Agradeço a todos os que mais uma vez me alimentaram a convicção e a capacidade para resistir. 
Para reafirmar, em tempos dificies que a escola é um lugar de construção de saberes de emancipação, não de opressão. E isso nos tempos que correm é para tornar realidade. Em nome de uma cultura de direitos e cidadania e da construção da democracia. À séria.  
  

3 comentários:

  1. Gostei muito Manuela! Foi o Chico que te descobriu e também gostou muito!
    Continua a ser muito bom ler-te.
    Ficamos à espera que no próximo Congresso a tua comunicação seja numa sala e num tempo e não apenas no teu blogue. Tens tantas coisas para contar e tantas reflexões para partilhar que emergem da tua enorme sensibilidade.
    Ficamos mesmo à espera!
    Um grande abraço!
    Inácia e Chico

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  2. Inácia e Chico, muito obrigada por lerem e gostarem!...Também espero, para o ano, estar menos assustada e mais confiante para comunicar. Também espero que a escola, a minha escola, fique mais tranquila e inspiradora. Vou fazer por isso!

    Um abraço grande e boas férias

    Manela

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