sexta-feira, 4 de julho de 2014

Carta a uma menina

Se eu pudesse ias comigo ver o mar. Sem ser numa visita de estudo, não quero o cheiro do curriculo neste desejo de maresia. Dávamos as mãos e corríamos pela areia, molhávamos os pés e depois ríamos e eu via a tua cara feliz. Olhos amêndoados e muitas trancinhas com as pontas coloridas. Vestida de cor de rosa, como gostas e com pés descalços, os sapatos mais que perfeitos que escolhes para andares no recreio. 

Se eu soubesse, enchia o teu coração de dias alegres, aqueles em que te esqueces que o choro é a linguagem mais fácil para obter um abraço e depois olhava para ti descansada, a apreciar o teu silêncio e gestos a comporem a boneca no carrinho para ires às compras, como uma mãe. E depois ouvia a tua voz distendida a dizer "vá filha, então, não chores, não estás feliz?"

Se eu pudesse ainda mais do que aquilo que pude e fiz, aninhava-te no meu colo e continha o teu caudal de lágrimas diárias, essas que começam pela razão que dizes, mas nascem por outros motivos e circunstâncias, e se prendem em novelos desalinhados dos teus afetos preferidos.
Se eu soubesse ajudava-te a construir dias de luz, com principio meio e fim, momentos bons e continuos, para que pudesses desenhar histórias de principes e princesas, esses que vais buscar à tua imaginação e desejo e convocas para as tuas brincadeiras e falas diárias.
Tudo o que sei e pude coloquei nos dias que vivemos, com o firme propósito de apoiar o teu crescimento de menina pequena e já tão sábia da vida.

Acho que não chegou, o tempo foi curto para lavares o coração de tardes cinzentas, tu que ainda és aurora de dias felizes. Porque a infância encerra muitos mistérios e quase todos os futuro prometidos, sendo certo que às vezes custam a dar à costa.

Era por isso que te queria levar a ver o mar. Quem sabe se, como diz o poeta, o futuro não estará a passar por aí...?

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