Tinha-se esquecido de tudo, mas não das pedrinhas lisas que guardava no fundo da gruta. Nem do cheiro da brincadeira no fim do verão, a arrastar mil risos e demoras, em lugares cheios como os da rua, por entre carros de bois, bicicletas distraídas e portões fechados ao cair da noite.
Tinha-se esquecido de tudo, mas não das festas breves em gatos pardos, picos de roseiras bravas em cômoros de amoras, salpicos do mar bravo aos domingos, o jeito da areia a arranhar a pele. E a pele morena de tanto sol. Vem para dentro, ficas trigueira! Ser menina e ser recatada, branca e pura, branca e leve, ter destino e desconhecer.
Tinha-se esquecido de tudo, mas não do quente do café à lareira da casa, da broa a fumegar em forno de lenha, da languidez das histórias contadas ao luar, por entre sustos bons e protegidos. Um arrepio na barriga e a alegria de escutar os uivos do lobo no cimo do monte. E fazem mal? fazem, pois, mas não vêm cá, descansa.
Tinha-se esquecido de tudo, mas não da casa da mestra, meninos para um lado, meninas para outros, então, que de pequenino é que se torce o pepino, e assim é que se quer e assim é que está bem. As canções de roda e o faz de conta, missas e batizados, água fresca do poço em pucarinhos de alumínio, o terço no final do dia, por entre segredos e distrações consentidas.
Tinha-se esquecido de tudo, mas não das rodelas de batata com azeite sobre a barriga, nos dias mal- humorados da vida a acontecer. Nem das palavras doces para amparar desgostos e revelar mistérios, aquele das barrigas a crescerem, sem medo e aviso prévio, e com bebés lá dentro. Nem das idas à igreja, por entre silêncio e rezas, nem da feira, da venda e das conversas amigáveis dos crescidos.
Tinha-se esquecido de tudo, agora que o tempo era mais curto e menos brincado. Mas mantinha dentro de si, as pedrinhas lisas, os gatos pardos, as gotas de mar, os uivos dos lobos, a casa da mestra, as canções de roda, o silêncio da igreja, a faina da venda, a elucidação da vida. E sobretudo a imensa presença do tempo longo em fins de tarde, a arrastar mil risos e demoras e muito brincar.
Talvez afinal se lembrasse de quase tudo...
Tinha-se esquecido de tudo, mas não da casa da mestra, meninos para um lado, meninas para outros, então, que de pequenino é que se torce o pepino, e assim é que se quer e assim é que está bem. As canções de roda e o faz de conta, missas e batizados, água fresca do poço em pucarinhos de alumínio, o terço no final do dia, por entre segredos e distrações consentidas.
Tinha-se esquecido de tudo, mas não das rodelas de batata com azeite sobre a barriga, nos dias mal- humorados da vida a acontecer. Nem das palavras doces para amparar desgostos e revelar mistérios, aquele das barrigas a crescerem, sem medo e aviso prévio, e com bebés lá dentro. Nem das idas à igreja, por entre silêncio e rezas, nem da feira, da venda e das conversas amigáveis dos crescidos.
Tinha-se esquecido de tudo, agora que o tempo era mais curto e menos brincado. Mas mantinha dentro de si, as pedrinhas lisas, os gatos pardos, as gotas de mar, os uivos dos lobos, a casa da mestra, as canções de roda, o silêncio da igreja, a faina da venda, a elucidação da vida. E sobretudo a imensa presença do tempo longo em fins de tarde, a arrastar mil risos e demoras e muito brincar.
Talvez afinal se lembrasse de quase tudo...
Também tenho as minhas memórias. Mas as tuas assim descritas tem um peso sublime.
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