sábado, 6 de setembro de 2014

Construir a escola, pensar a pedagogia

Estava à sua frente e podia ouvir e observar, com clareza e proximidade, as suas palavras e gestos. E apesar de não ser a primeira vez, de novo me surpreendi e me interroguei, confrontando a idade, a lucidez, o saber e a indignação. A capacidade e a coragem para se dizer e dizer um coletivo, sem azedume, mas determinação. Tudo em voz suave, com algumas palavras mais altas e fortes, saídas um pouco em sobressalto e inquietação, sem contudo se atropelaram ou confundirem. Um discurso claro, para uma critica sem disfarces ou concessões, a não ser aquelas que derivam do seu respeito e afeto pelos seus companheiros de jornada e profissão. Um afeto feito presença, com atenção e quase sempre, delicadeza.

E espantamo-nos, eu espanto-me, neste tempos conturbados de vida à deriva, com a sua força e resistência, a sua luta e sonho por uma escola como uma casa de cultura, com uma socialização democrática, onde a aprendizagem se faz pela apropriação do currículo, através do uso de diferentes linguagens, faladas e escritas, entre pares e entre adultos. A revindicação de uma escola que defende os Direitos Humanos, no aqui e agora do seu quotidiano, com profissionais com brio e coragem para dizer não aos atropelos e à negação do desenvolvimento das pessoas que fazem as escolas.

http://www.crismenegon.com.br/portal/images/educacao/material-escolar-38-95_1.jpgE eu espanto-me e confirmo o saber que tem e mostra, mastigado assim e devolvido numa reflexão histórica e politica, assombrosa, a reafirmar que a educação e o ensino não se devem aninhar em nichos de neutralidade, mas antes combater o fascismo, é terrivel quando o fascismo entre no nosso sangue. Estremecemos porque nos inquietamos com essa possibilidade.

E eu espanto-me com a veemência, a liberdade, a profundidade e a quase leveza das suas palavras, quando para e pelo meio, desoculta com um sorriso, o tom e algumas palavras utilizadas, como que amenizar o ar e o silêncio que se respira.. E espanto-me com a juventude, perguntando-me onde vai renovar a energia  para combater o presente e o furo. 

Não gosto de venerar pessoas nem fazer heróis que ofusquem a capacidade de pensar, agir, criticar. Não gosto de seguidismos cegos. Mas gosto e reconheço a importância de pessoas que ajudam a manter vigilantes os nossos princípios, a nossa coragem e as nossas práticas pedagógicas. Em escolas que respeitem a herança cultural e democrática dos direitos humanos e da cidadania para todos.

Escrevo e falo de Sérgio Niza. Obrigada por atualizar, recorrentemente, a indignação e o combate, o sonho e o saber, os principios e as práticas de uma profissão que se deseja inteligente, critica e digna. Dos professores, das crianças e da(s) comunidade(s).

4 comentários:

  1. Poder ler as suas palavras, faz-me sentir que reencontrei uma das pessoas importantes que me fazem "manter vigilante"! Obrigada!!! Reapareceu na minha prática numa altura muito importante... (este ano tive férias mais tarde e estou-me a sentir perdida... tenho reunião de pais 3ª feira e tenho muita coisa por preparar...)

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  2. Olá, Catarina...pois é, perdemo-nos de vez em quando, para depoisnos encontrarmos. Sei que vai ser assim...um bom ano e abraços

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  3. Li e como sempre concordo com os teus dizeres e sentires! Por isto é que é tão importante não estarmos sozinhos na nossa escola e procurarmos o outro para o desabafo, a partilha e a reflexão.

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